O futuro dos jovens
JOSÉ MEDEIROS* Motivou minha crônica da semana passada uma conversa com um grupo de estudantes do Ensino Médio sobre essa reunião. Em sua maioria, os alunos revelaram receio quanto ao futuro. No entanto, acreditam que a vida profissional será melhor daqu
Por | Edição do dia 21/05/2003 - Matéria atualizada em 21/05/2003 às 00h00
JOSÉ MEDEIROS* Motivou minha crônica da semana passada uma conversa com um grupo de estudantes do Ensino Médio sobre essa reunião. Em sua maioria, os alunos revelaram receio quanto ao futuro. No entanto, acreditam que a vida profissional será melhor daqui a seis ou dez anos. Como não sou psicólogo ou orientador vocacional fiz uma exposição sem muitas minúcias. Travou-se uma boa discussão. Tentei uma retrospectiva de minha experiência profissional. É exagerado dizer que nos anos 60 o emprego buscava o recém-formado. Nem tanto, nem tão pouco. Primeiro, porque o número de carreiras de nível universitário era bem mais modesto que o atual. Em segundo lugar, o número de formandos será infinitamente menor. As famílias desejavam que seus filhos escolhessem uma boa carreira. Além de formaturas em faculdades, o Banco do Brasil, a indústria e comércio eram boas pedidas. Os pais sempre almejam uma profissão que renda bom dinheiro, tenha repercussão social e, no final, assegure certeza de qualidade de vida. E a vocação, a devoção e a vontade de servir inerentes à maioria dos desempenhos profissionais? Continuam existindo? Um terço dos estudantes refere esse componente em suas cogitações. A geração de empregos sofreu grandes mudanças no decorrer das últimas décadas: postos de trabalho desapareceram, numerosos outros foram criados como produtos de inovações tecnológicas e de avanços científicos. A competitividade aumentou, é bem mais forte, por vezes o vizinho de sala de aula é um potencial concorrente tratado com o tal. Desemprego é a maior preocupação revelada. Todos os participantes que estavam presentes no encontro sobre futura profissão tinham pessoas desempregadas na família. Dizer que a Bélgica tem 14% de desempregados e a Espanha quase 25%, em nada serve de consolo e lenitivo. Uma questão foi levantada: o aumento exagerado da população brasileira não será responsável por parte dos problemas do aumento de desemprego? Em verdade, a explosão demográfica brasileira é algo impressionante. Poucos países conviveram com um crescimento populacional tão amplo. Vejamos o que relatam os estudos sobre esse assunto: De1872 (quando foi realizado o primeiro censo no Brasil) ao ano de 1991 (décimo censo), a população brasileira passou de 10 milhões para quase 150 milhões de habitantes. Um aumento de 15 vezes num período de 119 anos. Atualmente, estamos alcançando o elevado número de 170 milhões de pessoas. Para que se tenha uma idéia, Portugal, de onde vieram nossas origens, tem uma população em torno de 10 milhões de habitantes. Já no encerramento da reunião, a pergunta de um aluno provocou embaraços: Se as coisas estão difíceis, hoje em dia, como estarão daqui a 40 anos, quando nossos netos estiverem na porta das universidades? alcance de minha bola de cristal não foi suficiente para garantir uma resposta. Uma coisa é certa: Esses garotos sabem o que querem, são autoconfiantes, têm autocrítica e vão abrir seus próprios caminhos. *É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE