Ventos al�sios
RONALD MENDONÇA * Há pouco menos de duas semanas, folhas alagoanas divulgaram os pontos de vista de dois pesos pesados das políticas de saúde pública brasileira, o médico Humberto Gomes de Mello e o lendário Ib Gatto Falcão, o doutor Ib, cujo nome de bat
Por | Edição do dia 24/05/2003 - Matéria atualizada em 24/05/2003 às 00h00
RONALD MENDONÇA * Há pouco menos de duas semanas, folhas alagoanas divulgaram os pontos de vista de dois pesos pesados das políticas de saúde pública brasileira, o médico Humberto Gomes de Mello e o lendário Ib Gatto Falcão, o doutor Ib, cujo nome de batismo precedido do título que o grau superior confere já virou substantivo próprio. O tema discutido - vagas nos hospitais para os doentes do SUS versus remuneração - permitiu destacar os furos do sistema vigente, expôs a falta de empenho ou de tutano das autoridades e, de quebra, colocou em xeque a filantropia de armário . A questão financeira, que pode parecer ganância ou mercantilismo dos médicos e dos hospitais, é cada vez mais perversa. Pensem o que é ter parceria tipo mão dupla com alguém que impõe os próprios preços e que ainda por cima tem o poder de impedir que o outro lado ajuste os deles. Pois é exatamente assim. Ao bel prazer, o governo corrige o valor dos serviços que vende (água, luz, telefone, gasolina), inventa taxinhas e taxonas, arbitra sobre aumento de salários, medicamentos etc., mas considera um desaforo quando os hospitais falam em majoração nas tabelas. Nesse momento em que ninguém sabe em que vai dar tudo isso, o que impressiona mesmo é a obstinação do doutor Ib. É verdade que o seu histórico é irretocável, mas o homem excede. Afinal, são 70 anos de presença marcante na vida pública alagoana, ao ponto de se dizer que se conta nos dedos as obras de vulto no Estado que não tiveram a sua participação. Numa demonstração de que carrega pedras enquanto descansa, dentro de alguns dias, mestre Ib lança livro de sua autoria, denominado Ao Sabor dos Ventos e das Tempestades. O livro é uma coletânea de discursos, conferências, artigos, biografias, ensaios e comentários diversificados, revelando todo o pluralismo do seu universo, fato, aliás, que não surpreende. Pessoalmente, vejo Ao Sabor dos Ventos e das Tempestades, como o registro da longa trajetória de um teimoso viandante que aceitou do destino a missão de timoneiro. E aí, como um legítimo velho lobo do mar, ele assumiu conduzir vidas e sinas; navegou em águas turvas e transparentes; dobrou mares revoltos, transformando a tormenta em boa esperança. Também lidou com a calmaria de onde tirou frutos; enfrentou motins, piratas e papagaios; e, no melhor estilo Ulisses, livrou-se de monstros ciclópicos sem sucumbir aos encantos de sedutoras sereias. E, ao cabo de tudo, ancorou vitorioso em amenas enseadas... É. Ser convocado para escrever as orelhas de Ao sabor... está muito além do que um dia imaginou para si o filho da dona Rosinha. (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL