Anos dourados
JOSÉ MEDEIROS * Quais foram os melhores anos de nossas vidas? Quais os anos completos, redondos, plenos de satisfação, que tenham correspondido aos nossos mais íntimos ideais e desejos? Anos ou meses de sucesso pessoal, profissional, de amor correspond
Por | Edição do dia 26/06/2003 - Matéria atualizada em 26/06/2003 às 00h00
JOSÉ MEDEIROS * Quais foram os melhores anos de nossas vidas? Quais os anos completos, redondos, plenos de satisfação, que tenham correspondido aos nossos mais íntimos ideais e desejos? Anos ou meses de sucesso pessoal, profissional, de amor correspondido, de auto-realização, saúde e paz? Dificilmente alguém passa pela vida em brancas nuvens, como lembra o poeta. É óbvio que mais vale um dia feliz que uma semana de tristezas. Cronologicamente, quando se fala em anos dourados, o pensamento se volta para os anos de 1950 a 1960. Nessa fase do século passado talvez esteja o marco que delimita dois períodos distintos: o antigo e o novo, de um lado uma discreta evolução até então observada, do outro, uma pesada aceleração do desenvolvimento científico e tecnológico. Refleti sobre esse assunto ao receber o convite de Sebastião, Morgana e Luzinete Lins para fazer uma exposição sobre os anos dourados numa festa turística por eles planejada. Reuniram um grupo alegre de gente jovem, de gente madura, todos jovens de espírito, prontos para viver momentos de lazer, entretenimento e confraternização. Fiquei à vontade, preparai-me para uma divertida preleção. Diante dessa platéia, iniciei dizendo ser necessário estabelecer uma regra: desconectar dos problemas do dia-a-dia, das preocupações que haviam deixado para trás. Tentassem esquecer o celular, o computador, a escravização dos horários. Valia a pena relaxar, descontrair-se, desligar-se do permanente estado de alerta em que se vive nos dias de hoje. Passei uma vista nas gavetas de minha memória para situar acontecimentos que chamaram minha atenção nos anos dourados. Memorável foi a conquista da primeira Copa do Mundo, na Suécia, e aí os brasileiros encheram o peito, pois em alguma coisa éramos os melhores do mundo. Lembrei as canções da bossa nova, as engraçadas chanchadas do cinema nacional com Oscarito e Grande Otelo. E Brasília, que se erguia como uma das mais modernas cidades do planeta. Lembro com nitidez que as lambretas invadiam as ruas, os biquínis estouravam nas praias, minissaias faziam sucesso, como a grande novidade. Uma piada daquela época: as mães diziam às filhas casadas, que mulher casada de calça comprida, de jeans, parecia uma andorinha, uma descasada; os pais retrucavam que mulher de vestido quando subia uma escada todos os que estavam nas proximidades ficavam sabendo que, na verdade, se tratava de uma mulher. As preocupações eram bem outras: muitos poucos faziam regime, nem me lembro de ninguém que fizesse caminhada obri-gatória. Mulher magrinha, seca, tipo Gisele Bündchen, não representava o padrão de beleza da época. Eram comuns as mulheres com cabelos da moda rabo-de-cavalo e os homens com cabelos lambuzados de brilhantina. Um jovem fez uma pergunta que me fundiu a cuca: como se podia ser feliz numa época em que não havia telefone celular, e-mail, videocassetes e microondas? Se os discursos devem ser como o biquíni o suficiente para cobrir o assunto é possível que eu tenha utilizado umas tantas palavras a mais. (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE