Fragmentos ligados
EDUARDO BOMFIM* Enquanto passavam os dias do feriadão, corria atrás da leitura amontoada pela atividade prática incessante, decorrente da necessidade de oferecer respostas às intensas demandas profissionais. Assim é que extraio da escritora e psicanalis
Por | Edição do dia 27/06/2003 - Matéria atualizada em 27/06/2003 às 00h00
EDUARDO BOMFIM* Enquanto passavam os dias do feriadão, corria atrás da leitura amontoada pela atividade prática incessante, decorrente da necessidade de oferecer respostas às intensas demandas profissionais. Assim é que extraio da escritora e psicanalista Betty Milan, o trecho de um ensaio, intitulado A Utopia da Paz. Em determinada parte da sua escrita, afirma que as novas gerações precisam imaginar um sistema econômico, referindo-se ao capitalismo, que não seja contrário à vida, visto que entre 1480 e 1800, houve uma guerra a cada dois ou três anos. De 1800 a 1940, houve uma a cada um ou dois anos, e depois de 1945, uma a cada 14 meses. Números alarmantes, porém menos aterrorizadores que os dos mortos. Quatro milhões no século dezoito, oito milhões no século 19 e 115 milhões no último século. Esta é uma informação crucial para quem deseja conhecer um regime econômico que, além da exploração dos povos, alimenta-se da carnificina como fator de perpetuação. Mas, alguém que já não me lembro de onde recolhi, ressaltou que apesar da revolução da informática, as pessoas, em geral, encontram-se muito desinformadas. Uma infinidade de fatos em um banco de dados não significa a leitura crítica que nos leva à reflexão, a análise detalhada do porquê das coisas. E vaticina: isto é pior do que o inútil. O neoliberalismo, enquanto doutrina hegemônica, foi pródigo em ausência de préstimos, alienante, individualista por excelência. No presente, há um acentuado confronto ideológico. Em outras palavras, uma imensa batalha de idéias entre o velho que foi derrotado, mas que continua determinando o rumo dos acontecimentos, pelo poder econômico e militar, e o novo que se faz urgente, mas ainda acumula forças para sair da condição de resistência e passar à ofensiva. Uma espécie de guerra de guerrilha. Foi neste contexto, que me deparei com o artigo do senador e ex-presidente José Sarney, um homem de centro, paradoxalmente, hoje mais lúcido que alguns que carregam a marca da esquerda. Diz-nos que a sociedade democrática é de conflitos, os grupos de pressão, os choques de interesses, o corporativismo, são todos legítimos e fazem parte do jogo. A novidade é que estamos num tempo de baixo teor ideológico e de alta busca de resultados. Já o presidente do BNDES, Carlos Lessa, afirma em longa entrevista que houve época que se pensava a inclusão social como uma resultante do desenvolvimento. O Brasil cresceu, em vários períodos distintos, e as desigualdades sociais aumentaram. Constata, ainda, que a História é uma parteira de novidades. Declara que hoje, a retomada do crescimento econômico precisa estar interli-gada a políticas de inclusão social. Chegamos assim, aos condicionantes atuais. Vivemos circunstâncias, decorrentes de todas estas contradições, nas quais a vida já impõe a necessidade de emergir uma nova produção cultural, no sentido mais amplo do termo, em combinação com a riqueza intelectual já consolidada, que repense, traduza o Brasil atual. Visto que a agressão sofrida foi enorme, a bagaceira, grande. E considero que já estamos observando os sinais deste verão, de um novo iluminismo, de uma brasilidade que contribua com o universal. São fragmentos de idéias ligados, que fazem sentido. * É ADVOGADO