Fim da festa
MILTON HÊNIO * Hoje é o término de um mês de alegria para o povo nordestino. Junho é marcado no Nor-deste por cantorias, danças, rezas, fogos, boa culinária, fogueiras, tendo como pano de fundo, quase sempre, uma chuva fina. Começa no dia primeiro com a
Por | Edição do dia 29/06/2003 - Matéria atualizada em 29/06/2003 às 00h00
MILTON HÊNIO * Hoje é o término de um mês de alegria para o povo nordestino. Junho é marcado no Nor-deste por cantorias, danças, rezas, fogos, boa culinária, fogueiras, tendo como pano de fundo, quase sempre, uma chuva fina. Começa no dia primeiro com a trezena de Santo Antônio, cujo ponto culminante é o dia 13; depois vem o São João e hoje, o Dia de São Pedro, comemorado também pela esforçada classe dos pescadores. E qual a relação de São Pedro com os pescadores? É que ele era um pescador e Cristo costumava usar sua barca para ensinar ao povo na praia, para suas travessias no Mar da Galiléia. Durante uma tempestade, Jesus dormia. Seus companheiros de barca ficaram apavorados, acordaram-no aflitos. Ele acalmou a tempestade e reclamou da falta de confiança deles em sua pessoa. São Pedro, apesar de ter negado aquela amizade tão preciosa num momento tão crítico da vida de Cristo, foi por Ele perdoado, tornando-se seu amigo tão fiel que foi o escolhido como chefe de sua Igreja. Desde o momento daquela escolha até hoje, a história da Igreja não foi sempre escrita com dias de tranqüilidade e vitórias. O fato de a Igreja hoje muito se interessar pela justa ordem social, não é algo de revolucionário, mas decorre dos princípios éticos do Evangelho. Pois bem, com as procissões marítimas e a recepção a São Pedro em diversas cidades do Brasil afora, chegamos ao fim das festas do mês de junho. Em nenhum período do ano o povo nordestino sente-se tão à vontade, vivendo no meio da família e dos amigos, em sítios, ruelas, fazendas e salões, todo o calor das festas juninas. É a época em que brota de maneira extraordinária todo o esplendor do nosso folclore. Nos sertões do Nordeste, onde existe o Polígono das Secas, vive uma população considerada das mais pobres do mundo e nem por isso deixa de cantar, de dançar e de sorrir nessa época. Batidos pela inclemência do Sol, pela escassez de água e de alimentos, aquela gente produz uma riqueza folclórica exuberante. Tem-se a impressão de que as torturas que os envolvem servem de fontes prodigiosas de inspiração. Escutar o desafio de dois repentistas do Nordeste, completamente analfabetos, dissertando sobre qualquer tema, é simplesmente notável e nós temos muitos deles espalhados por nossa região, dando alegria e vida aos acontecimentos sociais de suas populações. Vejamos um pequeno trecho de um deles: Todo homem quando viaja /deve rezar uma vez / quando vai à guerra duas, e quando se casa três. Eu, particularmente, tenho imensa saudade das festas juninas do meu passado. As ruas de nossa querida Maceió, sem calçamento, eram repletas de fogueiras, onde as famílias em todos os bairros se entrelaçavam numa alegria sem fim. As pessoas do meu passado sucederam-se como sentinelas de uma guarda. De vez em quando procuro percorrer os logradouros que fizeram parte do meu viver. Tudo se emaranha, as épocas, as pessoas, as nossas próprias reações. Transportamos diariamente em nós a infância que tivemos. Trago comigo como um clarão que vem de dentro e irradia uma luz harmoniosa, a esperança de ver os meus conterrâneos nordestinos sempre felizes, apesar das dificuldades. Maceió, realmente, era e é uma cidade encantadora. Aqui nasci, construí o meu mundo, a minha família. Ela vive também em meus sonhos em vê-la sempre progredindo. Que as festas típicas de nossa região continuem levando felicidade às pessoas, muita alegria, num mundo tumultuado e cheio de conflitos como o que vivemos. (*) É MÉDICO E-MAIL: [email protected]