Ilustre alagoano
MILTON HÊNIO * Era o mês de março de 2000. O Hospital do Sesi mudava de dono. Uma equipe de dinâmicos e competentes profissionais da medicina acabavam de assumir o comando do mesmo. Cheios de planos e muito entusiasmo, começaram o novo projeto dando um n
Por | Edição do dia 06/07/2003 - Matéria atualizada em 06/07/2003 às 00h00
MILTON HÊNIO * Era o mês de março de 2000. O Hospital do Sesi mudava de dono. Uma equipe de dinâmicos e competentes profissionais da medicina acabavam de assumir o comando do mesmo. Cheios de planos e muito entusiasmo, começaram o novo projeto dando um nome grandioso aquele simpático complexo hospitalar: Memorial Arthur Ramos. Pois bem, graças a essa feliz iniciativa, inegavelmente, o nome do ilustre alagoano passou a ficar conhecido pela nossa população. Não conto as pessoas que no meu consultório perguntavam quem era Arthur Ramos. Houve, assim, um despertar para que as pessoas procurassem conhecer a vida desse grande humanista. Amanhã, dia 7 de julho, se Arthur Ramos fosse vivo, completaria 100 anos de idade. Morreu muito moço, aos 46 anos, em Paris, depois de ter se dedicado com afinco ao estudo dos negros e dos excluídos. Nasceu o ilustre médico na cidade do Pilar em 1903 e toda aquela paisagem vivida pela natureza que contornou sua infância, não o abandonou nunca. Talvez isso tivesse concorrido para seu espírito afetivo e muito sentimental. Em 1926, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia. Já demonstrava sua brilhante inteligência ao defender sua tese de doutorado sobre o título: Primitivo e Loucura. Essa tese, dividida em 5 capítulos, tratava de assuntos como: esquizofrenia, distúrbios psíquicos da linguagem do alienado, paranóia. O tema despertou tanto interesse nos meios locais que foi publicada no Diário Oficial da Bahia e serviu de debate nos meios médicos da Suíça. Em 1928 foi nomeado médico legista do Serviço Médico da Bahia, atualmente o Instituto Nina Rodrigues. Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve grande destaque na área da medicina psiquiátrica. Em 1940, mudou-se para os Estados Unidos, onde ministrou aulas sobre raças e o folclore do Brasil. Arthur Ramos era um apaixonado pelos temas sociais de um Brasil de sua época, cheio de negros após uma libertação de escravos e que continuavam num verdadeiro pesadelo de sofrimentos. Naquela época, ele jovem adolescente, o Brasil havia importado 4 milhões de escravos da África. Toda essa turma, mesmo com a liberdade já adquirida, vivia em todas as partes do Brasil, na lavoura, nas cidades, nas casas, vendendo água, limpando o lixo das ruas, vendendo doces e todo tipo de serviço. Porém, o atendimento que lhes era oferecido pelos patrões da época era indigno de seres humanos. E Arthur Ramos sofria muito com isso. Doutora Lilly Lages, nossa querida conterrânea e médica das mais ilustres, hoje vivendo no Rio de Janeiro, foi sua grande amiga e admiradora, e em palestra realizada em nossa Academia de Medicina, falou dessa ansiedade que ele possuía para que o homem fosse feliz em todas as classes sociais. Arthur Ramos, convidado pela Unesco como uma personalidade notável brasileira, lá teve um destaque extraordinário. Esse ilustre alagoano é assim, uma página na história do pensamento humano, do pensamento em favor de uma religião universal a paz e a harmonia entre as pessoas. É o que ele chamava de a Religião da Humanidade. Esse grande alagoano acreditava que a paz universal não dependia apenas da conciliação da Razão com a Fé, mas, sobretudo, do amor, da liberdade e da moral, harmonizadas como fatores na reconstrução de um mundo melhor. Parabenizo ao Conselho Regional de Medicina, a Prefeitura do Pilar e ao governo do Estado, entre outras entidades, pelo esforço que fizeram em homenagear Arthur Ramos na passagem do seu centenário. Dois excelentes livros foram lançados esta semana pelo Dr. Otto Kummer e pelo juiz Antônio Sapucaia, onde o alagoano poderá aprofundar os seus conhecimentos sobre esse notável conterrâneo que, mesmo distante, em Paris, costumava dizer: A minha recompensa maior será a de estar ouvindo aquelas vozes queridas que os ventos constantemente me trazem do Pilar distante, para a música do meu coração. (*) É MÉDICO [email protected]