Um ensaio social
JOSÉ MENDONÇA * A participação de algumas instituições na sociedade brasileira tem sido cada vez mais valorizada pela população. A recente evolução democrática do País, não obstante a paralisação absoluta da reforma política, sem dúvida, lançou uma luz s
Por | Edição do dia 10/07/2003 - Matéria atualizada em 10/07/2003 às 00h00
JOSÉ MENDONÇA * A participação de algumas instituições na sociedade brasileira tem sido cada vez mais valorizada pela população. A recente evolução democrática do País, não obstante a paralisação absoluta da reforma política, sem dúvida, lançou uma luz sobre o ressurgimento de organizações não-governamentais (ONGs), que buscam soluções para crescentes problemas de pobreza e exclusão social. A partir dos anos 90, criou-se uma mentalidade favorável, por parte da sociedade civil, em apoio às iniciativas, a impulsionar esforços que visam resultados sociais objetivos. Verificou-se certa ênfase na participação voluntária e no uso de ferramentas e metodologias apropriadas, levando a uma necessária reestruturação organizacional, inclusive quanto à profissionalização de seus recursos humanos. Também no plano socioeducacional, cujo foco de atuação é a família, foram aperfeiçoadas ações pedagógicas associadas a uma visão holística, proporcionando uma educação integral do ser, uma infância e juventude mais sadias. Nas Alagoas, evidenciou-se, naturalmente, a preocupação com empreendimentos sociais sustentáveis, especialmente com a percepção acerca da importância dessas instituições, objetivando-se atender às enormes demandas da capital. O Lar São Domingos é um exemplo típico de organização, com uma presença quase secular, reforçada por uma campanha e projeção nacional que o levou a ganhar, em 1997, o Prêmio Itaú-Unicef no País. Nestes tempos de fome zero, que almejamos se constitua uma alavanca para o desenvolvimento, começa a fazer sentido econômico a feição inovadora e pragmática das ações destas organizações: estima-se que existam, hoje, cerca de 250 mil organizações do terceiro setor, movimentando cifras equivalentes a 1,5% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB). O Lar passa, portanto, a ser mais bem conhecido em seu modelo de atuação. Com atividades padronizadas, fundamenta-se em dois eixos essenciais: o programa socioeducativo e o programa sociofamiliar, abrangendo cerca de 900 crianças e 250 famílias correspondentes (universo de pessoas abaixo da linha de pobreza, selecionadas na periferia da instituição). Enfatiza-se o esforço de manutenção da qualidade dos serviços prestados, tendo enorme significação a presença de quase 80 colaboradores, entre os quais professores, técnicos, universitários, médicos, dentistas todos voluntários. São pessoas com formação diversa e funções múltiplas a desempenhar, envolvendo toda uma gama de sentimentos, inspiração e religiosidade que caracteriza a ação de boa vontade desses trabalhadores. Evidencia-se, então, o foco na família, a importância da assistência contínua (cerca de 1.600 refeições por dia), com ações múltiplas, tais como o conserto do barraco, serviço civil, assistência médico-odontológica, educação infantil e complementar, educação de jovens e adultos, estágio em empresas, oficinas criativas e iniciação profissional. A instituição também é impulsionada através de projetos especiais, voltados para a violência nas suas diversas formas, com tratamento especializado em favor da população, com importante apoio de instituições internacionais. Enfim, caro leitor, esse mundo que se desdobra convida-o a uma visita. A expectativa é de que se afirme mais ainda a sociedade civil, com estímulo às organizações a buscarem alternativas para sua sustentabilidade. Este ensaio é dos homens de boa vontade. (*) É PRESIDENTE DO LAR SÃO DOMINGOS