M�dico-cientista
JOSÉ MEDEIROS * Mesmo tendo vivido apenas 46 anos, Arthur Ramos produziu extensa obra científica e cultural. Tão extensa que ao ser estudada nos tempos atuais, tem-se a impressão de que 100 ou 120 anos, se fossem vividos, ainda, seriam insuficientes para
Por | Edição do dia 10/07/2003 - Matéria atualizada em 10/07/2003 às 00h00
JOSÉ MEDEIROS * Mesmo tendo vivido apenas 46 anos, Arthur Ramos produziu extensa obra científica e cultural. Tão extensa que ao ser estudada nos tempos atuais, tem-se a impressão de que 100 ou 120 anos, se fossem vividos, ainda, seriam insuficientes para tantas pesquisas, estudos e escritos. Nos anos de 1930 a 1949 fase de sua intensa produção intelectual não havia computadores, os temas eram redigidos à mão ou numa antiquíssima máquina datilográfica. Relata-se que, muitas vezes, ele escrevia deitado, de tão cansado se encontrava. São fatos como esses que estão sendo lembrados por ocasião do centenário de nascimento do médico-cientista Arthur Ramos. Ele fez história como psiquiatra, professor universitário, cientista social, antropólogo e folclorista. É considerado o maior especialista em cultura negra na América Latina. Deixou mais de 350 trabalhos científico e 23 livros publicados, nos quais transborda sua extraordinária competência. Em torno das comemorações de seu centenário estão reunidas entidades científicas, culturais e educacionais, sob a coordenação do médico pilarense Emanuel Fortes Cavalcante, presidente do Conselho Regional de Medicina, com o apoio da mídia e do governo do Estado. É extraordinária, oportunidade de resgate da memória desse ilustre alagoano para tornar mais conhecida sua vida e sua obra. Num trabalho a muitas mãos, conseguiu-se equacionar sugestiva programação que destaca essa importante data. A Prefeitura do Pilar, por sua vez, festeja com muito esmero esse evento significativo. Muito oportuna a publicação da pesquisa histórica Arthur Ramos, significativas passagens, do médico-escritor Dídimo Otto Kümmer. Um primoroso estudo. Esse livro tem sido o texto básico para as escolas que participam do concurso literário sobre Arthur Ramos. A admiração intelectual de Dídimo e Ednéia (esposa) pelo homenageado é tão grande, que batizaram seu primogênito com o nome de Arthur. Outro, considerável reforço à documentação sobre o cientista pilarense, será a publicação do livro Relembrando Arthur Ramos, de autoria do magistrado, escritor e jornalista Antônio Sapucaia; encontra-se em período editorial. Tive a honra de prefaciá-lo. É coletânea de artigos, estudos e ensaios sobre vertentes do pensamento e da história desse médico, agora, centenário. É enriquecida com textos preciosos da lavra de Jorge Amado, Gilberto Freire, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, Théo Brandão, Gilberto de Macedo, entre muitos outros. Arthur Ramos morreu em Paris, em 1949, no exercício de relevante função cultural. Foi reconhecido pela Unesco por seu valor pessoal e pela profundidade de sua obra científica. Embora, estivesse em plagas distantes não esquecia sua cidade natal. Costumava dizer que Pilar era a paixão do coração e Paris a paixão do cérebro. Pilar - Paris: admiradores seus encontravam semelhanças na denominação dessas duas cidades ambas têm como inicial a letra p, duas sílabas, cinco letras e a mesma pronúncia sonora. E o mestre repetia a minha recompensa maior será a de estar ouvindo aquelas vozes queridas que os ventos constantemente me trazem da Pilar distante para a música do meu coração. Com certeza, Arthur Ramos é digno da homenagem e do reconhecimento de todos nós. (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE