A Igreja na Europa
DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * Em nossos dias, é muito comum a afirmação: A Igreja Católica na Europa está em decadência, perdendo seus fiéis. Para um adequado posicionamento sobre a questão é oportuno entender a estrutura social, econômica e religiosa dos
Por | Edição do dia 27/07/2003 - Matéria atualizada em 27/07/2003 às 00h00
DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * Em nossos dias, é muito comum a afirmação: A Igreja Católica na Europa está em decadência, perdendo seus fiéis. Para um adequado posicionamento sobre a questão é oportuno entender a estrutura social, econômica e religiosa dos nossos tempos ou a análise da conjuntura. Foi exatamente este o trabalho do segundo Sínodo para a Europa presidido pelo papa João Paulo II, de 1 a 23 de outubro de 1999, com o estudo e o aprofundamento do tema: Ecclesia in Europa. Foi um encontro dos bispos, revelando-se, sem dúvida, uma preciosa oportunidade de escuta e de discernimento no Espírito Santo. Com um olhar sob a luz da fé e cheio de amor, os participantes do Encontro Sinodal, detiveram-se sem medo a observar a realidade atual do Continente Europeu, ressaltando as luzes e sombras. Daí resultou claramente a noção de que a situação está marcada por graves incertezas e desafios, em níveis cultural, antropológico, ético e espiritual, mas carregada de esperança. De acordo com as conclusões deste Sínodo, o papa João Paulo II elaborou a Exortação Apostólica Ecclesia in Europa, publicada no dia 28 de junho neste ano, na vigília da Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, no vigésimo quinto ano de seu Pontificado. Na ocasião, tive a grata satisfação de estar em Roma, ao receber o Pálio. Convém observar que o Continente Europeu não deixou os prestigiosos símbolos da presença cristã, mas, com a afirmação lenta e progressiva do secularismo, vive o risco de reconduzir a meros vestígios a realidade do passado. O Sínodo procurou uma resposta a partir do Mistério de Cristo e do Mistério Trinitário, contemplando a figura de Jesus, vivo na sua Igreja, revelador do Deus-Amor que é comunhão das Três Pessoas Divinas. A tentativa de fazer prevalecer uma antropologia sem Deus e sem Cristo, conduz o homem a viver uma crise de esperança. O papa vai afirmar que: Os sinais da diminuição da esperança manifestam-se às vezes através de formas preocupantes daquilo que se pode chamar uma Cultura de Morte. O papa ressalta, também, a necessidade de formar a Igreja da Europa para uma fé adulta: A situação cultural e religiosa atual da Europa exige a presença de católicos adultos na Fé e de comunidades cristãs missionárias que testemunhem a caridade de Deus a todos os homens. Desta maneira, o anúncio do Evangelho da esperança supõe que haja o cuidado de promover a passagem de uma fé apoiada na tradição social, e que tem no seu valor, uma fé mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta. Para compreendermos a situação e atuação da Igreja na Europa, temos de ver no Continente, não um território fechado ou isolado, mas algo aberto para além-mares, ao encontro de outros povos, culturas e civilizações. Por isso, o papa deseja um Continente aberto e acolhedor, continuando a realizar, na globalização atual, formas de cooperação não só econômica mas também social e cultural. (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ