Cen�rios rurais
Um misto de descaso e incompetência é o mínimo que se pode dizer dos assentamentos realizados em Alagoas. Para citar apenas um exemplo, os sistemas de captação de água, no Vale do Rio Mundaú, para os assentamentos no município de Branquinha não mais exist
Por | Edição do dia 01/08/2003 - Matéria atualizada em 01/08/2003 às 00h00
Um misto de descaso e incompetência é o mínimo que se pode dizer dos assentamentos realizados em Alagoas. Para citar apenas um exemplo, os sistemas de captação de água, no Vale do Rio Mundaú, para os assentamentos no município de Branquinha não mais existem, pois foram levados pela cheia do rio, segundo denúncia da Superintendência do Incra no Estado. Ao longo da história brasileira houve tentativas de modernização capitalista e diversificação da posse no campo (com tímidos ensaios de reforma agrária) que priorizassem outras formas de exploração alternativas ao antigo modelo baseado nas grandes propriedades. A maior parte dos experimentos minifundiários de sucesso ficou limitada a áreas específicas (como em Arapiraca, no auge da cultura do fumo). A modernização levada a efeito no campo brasileiro privilegiou as vastas plantações de produtos agrícolas com possibilidades de sucesso no mercado internacional, pois as divisas provenientes das exportações destes produtos eram e continuam sendo essenciais para a balança comercial brasileira. Em contrapartida, os pequenos produtores que não se dedicavam ao cultivo de produtos exportáveis foram perdendo, ao longo do tempo, suas melhores terras. Proletarizaram-se no campo e, via mais comum, migraram para as periferias das grandes cidades ou engordaram as fileiras dos sem-terra. No Brasil, a questão dos trabalhadores rurais sem-terra ora é tratada de forma emergencial e criminal nos períodos de agudização dos conflitos no campo, ora é abrigada no rol das políticas públicas compensatórias. Nem uma nem outra resolvem a questão principal: de que forma os sem-terra terão acesso ao campo? Em Alagoas, com a liberação de terras das agroindústrias sucroalcooleiras pelo aumento da produtividade (e com o fim das queimadas), teremos um estoque de terras agricultáveis e baratas, inservíveis para o grande capital, mas capazes de se transformar num formidável celeiro para a produção de alimentos e, serem, portanto, destinadas para fins de reforma agrária, com planejamento, assistência técnica, zoneamento agrícola e recursos adequados. É uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.