Foto do Bar�o
EDUARDO BOMFIM * Há certas coisas que falam por si próprias, descartam explicações, são translúcidas. É o caso da foto do senador Jorge Bornhausen na Folha de São Paulo da terça-feira passada, 12 de agosto. Vê-se logo que ali se encontra mais que um r
Por | Edição do dia 15/08/2003 - Matéria atualizada em 15/08/2003 às 00h00
EDUARDO BOMFIM * Há certas coisas que falam por si próprias, descartam explicações, são translúcidas. É o caso da foto do senador Jorge Bornhausen na Folha de São Paulo da terça-feira passada, 12 de agosto. Vê-se logo que ali se encontra mais que um representante da alta Câmara revisora. Trata-se, na verdade, de um barão. O barão Von Bornhausen. A sua postura, sua arrogância quase que pula da página e temos a sensação de que investirá, do alto de suas prerrogativas aristocráticas, acrescidas da função senatória, sobre nós, o povo. Homem todo-poderoso, acusado de fraude como banqueiro, senhor de massacrados brasileiros mestiços, lídimos imigrantes italianos, germânicos entre outros, que não possuem a organização suficiente para reivindicar na tal da política afirmativa instituída como ideologia e prática legal nos EUA, a sua parcela de cotas nas instituições brasileiras. Muito bem, mas essa é outra história. Voltemos ao barão, e a sua imagem. Meus amigos, companheiros e companheiras. Ela diz tudo, um verdadeiro tratado, volumoso como Os Sertões de Euclides da Cunha. Sendo apenas uma mísera ima-gem porque ouso tal declaração? Costuma dizer o nordestino, você não vê o jeitão dele! Como na piada sertaneja, não se trata de um batráquio, mas de um falso barão, assim como um falso brilhante, apesar da pose, saudoso dos títulos aristocráticos. Apuro o olhar e observo em seu meio sorriso um traço de nojo, talvez um certo fastio, típico dos nobres. Neste caso um fidalgo falsificado. Alguém pode argüir, porque perco tanto tempo com uma ordinária fotografia? Os jornalistas afirmam que certas imagens valem mais que mil palavras. E esta, acreditem vocês, é um caso legítimo. Em segundo lugar, este barão é um dos principais adversários do governo Lula. Uma fina flor das oligarquias, agrárias e financeiras, aliadas ao capital especulativo internacional. Permitam-me um aparte. Discordo da ilustre grande mídia nacional quando declara sistematicamente que o Planalto tem sido fustigado, em um dos seus flancos, pelos radicais da esquerda. Em absoluto. Os radicais verdadeiros que lutam como perspectiva estratégica à emancipação nacional e social, encontram-se no campo do governo. Buscam fazer a política, inserida no verdadeiro conceito marxista, de que a política é análise concreta da realidade concreta. Portanto, compreendem a dualidade no seio do alto comando decisório da equipe ministerial. As possibilidades e limites da gestão de Lula. E não é algo recente, remonta ao processo eleitoral, da ampla e contraditória, porém imprescindível, frente político-eleitoral, que foi construída para a vitória em outubro do ano passado. Mais ainda, sabem que há evidentes diferenças teóricas e programáticas, entre a força hegemônica a qual pertence o atual presidente e os seus objetivos de ruptura sistêmica em direção a um novo regime. No entanto, assimilam perfeitamente o fato de que o governo Lula é imperfeito, com alas vacilantes em relação a políticas ousadas ou mesmo paralisadas, no que diz respeito a retomadas de políticas públicas que impulsionem a retomada do crescimento econômico com a funda-mental inclusão social. Baseado nestas análises e outras mais profundas, consideram fundamental a participação nesta administração, visando impulsionar o campo mais avançado do Poder Executivo, assim como do Legislativo. Influenciar as mais amplas massas do povo e da intelectualidade. Esforçam-se para distinguir o determinante neste processo e o secundário, mesmo que este seja complexo e adverso. É fundamental empurrar o atual governo central para as posições mais avançadas, observando a correlação de forças. Temos aqui uma batalha hercúlea. Podemos ainda acrescentar, imprevisível. Só temos a convicção de que nossa vitória, mesmo que parcial, será a derrota do falso barão Bornhausen e seus aliados que dominam a nação de tal forma que já reverteram as esperanças do povo várias vezes, como em 1964. (*) É ADVOGADO