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Nº 5828
Opinião

Custo e benef�cio

MARCOS DAVI MELO * Doeu na alma ver na televisão os equipamentos médicos sendo arrestados no maior hospital de Minas Gerais, a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. A instituição, apesar da longa folha de serviços prestados à comunidade mais care

Por | Edição do dia 16/08/2003 - Matéria atualizada em 16/08/2003 às 00h00

MARCOS DAVI MELO * Doeu na alma ver na televisão os equipamentos médicos sendo arrestados no maior hospital de Minas Gerais, a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. A instituição, apesar da longa folha de serviços prestados à comunidade mais carente, vive uma dramática situação, que é compartilhada pela maioria das instituições filantrópicas no País. Conheço-a há tempos. Já exercendo a oncologia, precisei fazer um aperfeiçoamento para os novos equipamentos que a Santa Casa de Maceió adquirira. Na época, em Belo Horizonte existia o melhor serviço de radioterapia do Brasil, coordenado por Oscar Perez, um brilhante médico paraguaio fugido do regime de Stroesner. Fui para lá, com a mulher e o primeiro filho, ainda com poucos meses. Há 25 anos, chegar em Belo Horizonte, mesmo de avião era uma odisséia. Tanto assim, que de tanto mudar de avião, passando de um para outro, direto pela pista, sob a chuva e o rugido devastador dos motores, a criança chegou doente, os pequenos ouvidos estourados. Convivi com um grupo de profissionais extremamente qualificados e comprometidos com o seu trabalho. Oscar, um profissional tão rigoroso e exigente na sua rotina de oncologista, quanto perfeito boêmio nos fins de semana, quando saudoso do chaco paraguaio, cantava e tocava em seu violão os boleros de Lucho Gatica. Oscar passou as suas últimas férias em Maceió. Numa casa de praia na Guaxuma, onde algumas vezes o encontrei debruçado sob uma inclemente angina. Morreu aos 42 anos, de um fulminante infarto do miocárdio em BH, sem ter podido rever a sua terra. O seu serviço nunca mais foi o mesmo. Aqueles equipamentos que não foram confiscados por uma ação da Justiça, estão entre os muitos no País que funcionam. Adquiridos em dólar e mantidos em dólar, para servir aos usuários do SUS, têm o pagamento dos procedimentos realizados em real, que estão muito defasados e sem reajustes há muitos anos. É uma situação kafkaniana. São máquinas que salvam vidas. Têm um custo alto e se justificam. Mas nem sempre. A questão dos equipamentos médicos de alto custo é complexa. Os riscos são muitos. O encanto com estes equipamentos de medicina de ponta, pode condicionar à aquisição desmedida de máquinas frente à realidade de uma região. Se depois, tornados ociosos e supérfluos, serão de difícil e impagável manutenção. Os dólares saem do País em borbotões, aumenta-se a dívida externa e não há benefícios equivalentes aos custos. É uma linha divisória tênue, quando os recursos são limitados e precisam ser dirigidos de acordo com as prioridades reais, o bom senso e não apenas com as boas intenções. Podem sobrar recursos em um canto e faltar em outro. Em medicina isto significa a perda de vidas e os desperdícios de hoje serão injustificáveis amanhã. (*) É MÉDICO

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