Faz parte
LUIS GONZAGA BARROSO FILHO * Neste ano de Copa do Mundo e de eleições, o brasileiro tem receio de ser decepcionado, mais uma vez, nas duas competições de grande significado na vida nacional, porquanto, uma envolve o futebol, sua maior paixão, e a outra r
Por | Edição do dia 11/04/2002 - Matéria atualizada em 11/04/2002 às 00h00
LUIS GONZAGA BARROSO FILHO * Neste ano de Copa do Mundo e de eleições, o brasileiro tem receio de ser decepcionado, mais uma vez, nas duas competições de grande significado na vida nacional, porquanto, uma envolve o futebol, sua maior paixão, e a outra representa a condução do seu próprio destino, com a escolha dos novos dirigentes do País. Se no campo esportivo a Seleção Brasileira de futebol irá disputar o campeonato desacreditada, ressentindo-se da ausência de craques na sua formação, os problemas gerenciais também aparecem como impeditivos ao bom desempenho do Brasil, que vem perdendo a hegemonia no cenário esportivo internacional, por culpa de cartolagem competentíssima em negociatas extracampo, enquanto dentro das quatro linhas o futebol tetracampeão mundial está involuindo, beirando a mediocridade. Por outro lado, no jogo político em que o povo tem a responsabilidade de decidir e a possibilidade de ser o grande vitorioso, a qualidade do time de candidatos não difere muito da observada no futebol e a presença de alguns pernas-de-pau na competição é temerária. Essas considerações servem para que se faça uma analogia com outro tipo de disputa que vem fazendo muito sucesso no Brasil: o reality show, experiência nova na televisão brasileira, importada de outros países (Estados Unidos, Espanha, Holanda, Portugal). Sem nenhum conteúdo educativo, os reality shows da TV brasileira não podem sequer ser classificados na categoria de diversão, tendo em vista os apelos eróticos, as intrigas e a linguagem pouco civilizada dos protagonistas. Contudo, tais programas chamam a atenção do incauto telespectador, pelo formato inusitado e pela produção milionária que aumentam os índices de audiência e o faturamento das emissoras. Do ponto de vista dos resultados, os polêmicos programas, até agora, apenas serviram para impulsionar a carreira de artistas obscuros e de talentos limitados, entre eles, o excêntrico cantor Supla e o historiônico dançarino Kléber Bam Bam, tornando-os celebridades nacionais, demonstrando que o Brasil é mesmo o País das contradições e que o fenômeno da inversão de valores continua predominando em diversos segmentos, além de consagrar velhos conceitos, que não deveriam ser aplicados aos temas aqui abordados, tais como: O importante é competir e nem sempre vence o melhor. Infelizmente, isso faz parte, como diz o notável Kléber Bam Bam, de forma simples e desconhecendo o alcance do seu bordão, mas revelando o comportamento de uma sociedade caótica e injusta que permite, por exemplo, a um jogador de futebol de nível mediado enriquecer em pouco tempo de atividade e a um professor aposentar-se, sem possuir uma casa modesta pra morrer, depois de 30 anos de trabalho árduo. Mesmo assim, neste ano 2002, espera-se que a Seleção ganhe a Copa do Mundo; que o futuro presidente da República seja melhor do que o atual e que os próximos reality shows também melhorem o nível, porque, diante dessa conjuntura, tudo faz parte. (*) É ADVOGADO E MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO ALAGOANA DE IMPRENSA