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Nº 5865
Opinião

A Casa do P�o

EDUARDO BOMFIM * A cidade conflagrada de Belém, no Oriente Médio, significa em hebraico, “Casa do Pão”. Seria uma ironia não fosse algo extremamente trágico. Lá foi construída a Igreja da Natividade, local onde teria nascido Jesus Cristo. Atualmente enc

Por | Edição do dia 12/04/2002 - Matéria atualizada em 12/04/2002 às 00h00

EDUARDO BOMFIM * A cidade conflagrada de Belém, no Oriente Médio, significa em hebraico, “Casa do Pão”. Seria uma ironia não fosse algo extremamente trágico. Lá foi construída a Igreja da Natividade, local onde teria nascido Jesus Cristo. Atualmente encontra-se sob o cerco das tropas de Israel e suas paredes encontram-se crivadas de balas, padres católicos isolados, acusados de protegerem palestinos escondidos em seu interior. Mortos apodrecem nas ruas das cidades palestinas porque os soldados israelitas não permitem que seus corpos sejam resgatados pelas ambulâncias da Cruz Vermelha Internacional. A “Casa do Pão” e seu drama transcendem em muito ao horror que atormenta a região. É um alerta contra a soberba desdenhosa, militarizada, que se considera imune e impune, mundo afora. E como ela cresce sob a novíssima ordem mundial! Os povos, sobressaltados, são informados pela televisão, rádio ou jornal que uma nova guerra surge ao fim e ao cabo do término da outra até que finalmente chegou à “Casa do Pão”, ou seja Belém. O Império da arrogância é insaciável e desprovido de escrúpulos. Com suas temíveis armas sofisticadas esmaga qualquer nação e não respeita território algum. Muito menos aqueles considerados sagrados por esta ou aquela religião. O cerco à Igreja da Natividade, e de resto a toda Belém, é assim como um símbolo dos tempos que vivemos. A humanidade clama há séculos por trabalho, paz e pão. Hoje como nunca. E o que presenciamos? Guerra, fome, desemprego. A ONU informa que todos os anos 11 milhões de crianças morrem de doenças evitáveis em nosso planeta. A África, um genocídio continental. O grande líder norte americano da luta pela igualdade dos direitos civis e contra a discriminação racial, Martin Luther King, afirmou que sonhava com um dia em que a justiça correrá como a água e a retidão como um rio caudaloso. Morreu assassinado em conseqüência desta causa. Não foi o primeiro e nem será o último. Todos eles são ou foram considerados como malditos subversivos mas nem por isso abandonaram a defesa de uma humanidade generosa e mais justa socialmente. O grande Ortega e Gasset disse: herói é quem quer ser o que é. Os mártires são fiéis às suas causas. Já os poderosos de todos os tempos perfilam-se e matam em favor da ganância do capital, assim como os prepostos em todos os países. Reduzem a fome, miséria e sofrimento da humanidade a meros e frios dados estatísticos. Não importa, por exemplo, que no Brasil existem 55 milhões de famintos, 16 milhões de tuberculosos, cifra semelhante de analfabetos e por aí vai... Um País como o nosso, que se encontra colocado no pódio como a 13ª economia do mundo, é igualmente o de maior concentração de renda, principalmente, mas não só, no Nordeste. Uma nação que gasta mais em propaganda que todo orçamento social de um ano. O Brasil vive também a sua guerra, denunciada há dezenas de anos por Josué de Castro em sua “Geografia da Fome”. Vivo fosse, teria que reescrever outro livro, tal a defasagem atual dos números. Há um conflito que se amplia em uma guerra civil não declarada. Contra a realidade, a empulhação e a hipocrisia dos dados oficiais de um governante cínico, inútil para o povo e gracioso para com os donos do mundo. Em última instância, os mesmos que violam a “Casa do Pão”. Os outros são os “atrasados” que se recusam a aceitar a pós-modernidade econômica, a nova cultura do individualismo umbilical, escapista. Das nações ameaçadas e em desfazimento. Pátria e povo são para os gerentes do poder palavrões impublicáveis. O Oriente Médio é aqui também. E o que está acontecendo por lá é bem mais que um episódio circunstancial, localizado. Possui conteúdo estratégico, mundial. É o reflexo de um império do mal, militarmente hegemônico mas que arrasta contra si e cada vez mais a ira santa dos povos oprimidos. Vale dizer, da humanidade. (*) É ADVOGADO

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