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quarta-feira, 30/04/2025 | Ano | Nº 5956
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Vida contemplativa

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DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * No dia 22, terça-feira passada, fiz uma viagem de visita anual à Serra da Catita, por ocasião dos 10 anos da existência dos monges em nossa Arquidiocese. É neste humilde lugar que moram, rezam e trabalham os Missionários do Campo, num estilo de vida contemplativa e monacal. O local é propício para o contato direto com a natureza, o silêncio e a solidão que falam à alma e ao coração. O murmúrio das águas que deslizam sobre as pedras e o lajeado, as flores rústicas que atraem a visita dos colibris e das abelhas e borboletas, a simplicidade encantadora do estilo de vida das alturas da serra são elementos propícios que convidam e favorecem ao repouso e à oração. Pois bem, estava à procura do tema para este dia e então veio-me a feliz inspiração de falar hoje sobre a vida contemplativa ou a oração contemplativa. Com efeito, São Bento, o Pai e mestre da vida monástica, estabelecia como princípio e norma de vida: “Ora et labora”, “Ora e trabalha”. Na verdade, o homem moderno, cansado pelo barulho ensurdecedor dos trios elétricos e das buzinas dos carros e máquinas, precisa desses momentos para um reencontro de si mesmo, para um refazer-se em todos os aspectos. O homem necessita também do silêncio para o encontro com Deus na oração. É sempre oportuno relembrar a prática de Jesus: “Ele, porém, permanecia retirado em lugares desertos e orava”. (Lc 5,16) Estamos no tempo quaresmal que volta a nos propor as três tradicionais práticas que facilitam a renovação espiritual: a mortificação e o jejum, a esmola e a partilha, e, finalmente, a oração como encontro íntimo com Deus. A vida contemplativa é na verdade uma eterna mortificação, o orante e religioso consagrado renuncia praticamente tudo que o mundo lá fora oferece e, como verdadeira oblação ao Pai de toda criação, faz de sua própria vida uma oferenda total. A partilha na vida do contemplativo é, como em nossa própria vida, a vivência autêntica do evangelho, é um sinal permanente de um partilhado entre os irmãos. Nosso maior gesto é sacramentalmente a Eucaristia, mistério do amor de Deus por nós, oferecido como Cordeiro Imolado sobre a mesa da partilha. A oração é o ápice da consagração cristã, ela é essencialmente o instrumento divino de sustentação da ação missionária da Igreja. Quem trabalha, reza e quem reza trabalha. Existe um ciclo vital entre a oração e a ação. Ela nos conduz e aperfeiçoa nossa vida espiritual e apostólica, dando-nos força para alimentarmos uma fé sólida e comprometedora. Na oração contemplativa, temos oportunidade de ver as pessoas, as coisas e toda a criação em Deus. Nela Deus se revela a nossos olhos. Ela nos permite louvar, glorificar e agradecer ao Senhor que manifesta seu poder e seu amor na criação. Precisamos ter alma do salmista e de Francisco de Assis para contemplar a criação e cantar o hino das criaturas. Neste tempo da Quaresma, reconhecendo o valor e a importância da oração e da contemplação, tão indispensáveis à vida espiritual, o evangelista Marcos nos transmite o convite de Jesus: “Vinde vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco” ( Mc 6.31). (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ

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