Crescer em bondade
DOM FERNANDO IÓRIO * A bondade é aquele acolher inspirado no amor. A pessoa bondosa tende a dar e a dar-se com facilidade, espontaneidade e desinteresse. Seu primeiro gesto é de acolhimento, antes mesmo de conhecer a pessoa que se aproxima. Vai-lhe ao e
Por | Edição do dia 30/04/2002 - Matéria atualizada em 30/04/2002 às 00h00
DOM FERNANDO IÓRIO * A bondade é aquele acolher inspirado no amor. A pessoa bondosa tende a dar e a dar-se com facilidade, espontaneidade e desinteresse. Seu primeiro gesto é de acolhimento, antes mesmo de conhecer a pessoa que se aproxima. Vai-lhe ao encontro, criando acolhedora atmosfera de confiança, sem perder a distância própria do respeito. O interessante é que, apesar de tudo, a bondade não está na moda, nem é objeto da mídia. Acontece que, em meio à selva impiedosa que nos circunda, onde tudo se justifica em função do poder, da fama e do dinheiro, onde não se economizam fraudes, calúnias, traições, falsidades, abusos de poder, manipulações chantagens e outras estratégias, ainda restam, ainda sobram corações humanos, eivados de bondade. A bondade é valor de incomensurável importância, razão por que está sempre em alta. Sêneca afirmava que a natureza não nos concede a virtude da bondade, por isso está a exigir-nos vontade e aprendizagem. Joan Bestard asseverava ser a vida curta demais, resultando daí cada um fazer o bem sem demora. Quando observamos que o tempo passa rápido e como nossas mãos estão vazias de atos de bondade, damo-nos conta de que devemos ser avaros do tempo, aproveitando cada minuto para a prática do bem. A existência é muito breve para perdê-la, inutilmente. Nossa sociedade seria mais humana se, no dealbar de cada dia, as pessoas se perguntassem o que poderiam fazer pelos demais. Nada há que preencha tanto o nosso ser quanto a possibilidade de fazer algo positivo em favor dos outros. Afinal, nosso desejo humano é a plenitude e a felicidade que somente encontramos quando somos capazes de amar, de nos doarmos, gratuita e alegremente, a Deus e ao próximo. Conta-se que para Tito, imperador romano, era perdido o dia em que não fazia ele uma boa ação em favor de alguém. O ser humano é relacional, vive como pessoa e se desenvolve como tal, criando relações de encontro. Se assim é, somente seremos felizes quando organizarmos nossa maneira de ser de modo aberto, generoso, criador de vínculos estáveis e oblativos. Donde, cultivar sentimentos de rancor e ódio, que destroem a unidade, é tirar nossa estabilidade psíquica. A realização do ser bom acontece quando criamos, entre nós e os demais, espaços de liberdade, campos de intercâmbio sincero, de ajuda incondicional, de compreensão e, em alguns casos, até de compaixão. Esse ambiente de acolhida é aconchegante para o ser humano que não foi criado para a solidão, mas para unir-se com os outros, a serviço dos grandes valores. No fim da caminhada, iremos ver como foi bom termos sido bons na vida. Dizia Lebret que nosso tempo, na terra, é tão curto que não podemos perdê-lo, com bagatelas. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS