Agricultura e importa��es
HUMBERTO MARTINS * O Brasil é um dos países do mundo com mais terras disponíveis para a agricultura. E o País onde essas terras são menos ocupadas. Uma série de problemas agrava essa situação: os donos de grandes extensões de terra preferem estocá-las,
Por | Edição do dia 14/05/2002 - Matéria atualizada em 14/05/2002 às 00h00
HUMBERTO MARTINS * O Brasil é um dos países do mundo com mais terras disponíveis para a agricultura. E o País onde essas terras são menos ocupadas. Uma série de problemas agrava essa situação: os donos de grandes extensões de terra preferem estocá-las, à espera de valorização, ao invés de investirem na agricultura, pois os preços dos produtos, geralmente, não são compensadores; os médios e pequenos agricultores não dispõem de capacidade técnica e capital de giro para transformarem suas glebas em áreas produtivas; as políticas agrícolas dos governos são equivocadas. Como conseqüência de tantos desacertos e omissões, o Brasil gasta bilhões de dólares, cada ano, com a importação de alimentos que poderiam ser produzidos entre fronteiras. Esses recursos poderiam ser empregados em serviços de saúde pública, educação, estradas, energia e em outros seto-res nos quais nosso País é tão deficiente. Nos últimos anos, ao invés de melhorar, essa situação agravou-se. O Brasil é completamente dependente, atualmente, do trigo que importa de outras nações, principalmente da Argentina. Não é uma dependência qualquer, por diversos motivos. O percentual de trigo que o Brasil precisa importar aproxima-se de 90%, e do trigo importado depende o principal produto da mesa dos brasileiros, que é o pão. Tardiamente, o Paraná, principal área produtora de trigo nacional, deverá ampliar sua área plantada de trigo entre 5% e 10%, segundo os líderes cooperativistas que lidam com a atividade. A previsão inicial é o Estado plantar mais de 900 mil hectares de trigo nesta safra, o que corresponde a um aumento de 6% sobre os 845 mil hectares cultivados no ano passado. As vulnerabilidades do Brasil em matéria de importação de produtos agrícolas, principalmente alimentos apesar da nossa extensão territorial e do clima favorável - não ocorrem apenas no que se refere ao trigo. A queda na produção de feijão fez com que as importações, principalmente da Argentina, aumentassem consideravelmente. Foram importadas 126,5 mil toneladas de feijão entre janeiro e novembro do ano passado, sendo 99,6 mil da Argentina. Os gastos com importação de feijão argentino no período elevaram-se 269,7%, atingindo US$ 40,3 milhões em relação aos US$ 10,9 milhões de 2000. A diminuição na produção interna, ano passado, foi de 16%, de 3,1 milhões de toneladas para 2,6 milhões, em relação à safra anterior. Dois dos produtos mais necessários à mesa dos brasi-leiros, trigo e feijão, revelam assim a deficiência da agri-cultura na-cional, sobrecarre-gando nossa balança de importações e sacrificando recursos que fazem falta em outros setores. O Brasil necessita executar uma política agrícola onde se possa incentivar a pesquisa e a tecnologia, sem deixar de oferecer assistência técnica e extensão rural, a fim de que esteja hábil a concorrer com outros países nos mesmos setores de produção, quer no tocante aos custos, quer na garantia de comercialização. Sem aSgricultura não há trabalho nem desenvolvimento. O Brasil deve incentivar a nossa própria produção, valorizando, repito, a nossa agricultura. (*) É DESEMBARGADOR DO TJ/AL