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Nº 5882
Opinião

Um conselho bom e dif�cil

| Marcos Davi Melo * Um amigo muito apreciado me deu um sábio conselho: “Escreva mais amenidades, basta de coisa ruim, de problemas.” Eu gostaria. Esta semana estava pensando em escrever sobre Pigmalião e a estátua que fez em bronze, réplica de uma mul

Por | Edição do dia 02/12/2006 - Matéria atualizada em 02/12/2006 às 00h00

| Marcos Davi Melo * Um amigo muito apreciado me deu um sábio conselho: “Escreva mais amenidades, basta de coisa ruim, de problemas.” Eu gostaria. Esta semana estava pensando em escrever sobre Pigmalião e a estátua que fez em bronze, réplica de uma mulher perfeita, por quem se apaixonou, que depois ganhou vida e lhe trouxe felicidade para o resto de seus dias. Principalmente porque vivo com uma mulher há 30 anos e a maturidade só lhe fez bem. Mas a realidade não permite. Reunido esta semana com os médicos cirurgiões especializados em câncer na Santa Casa, um deles, com quase 40 anos de exercício da profissão, tempo no qual se dedicou às grandes cirurgias dos tumores da cabeça e pescoço, exclamou: “No mês passado eu operei uma grande quantidade de pacientes com câncer do SUS, ao fim do mês faturei 2.600,00 reais e quando fui receber só recebi 600 reais. Como eu posso sobreviver ?”. No dia seguinte, na reunião do Conselho Estadual de Saúde, a crise explodiu. Ali estavam os transplantados de rim, desesperados porque não conseguem os remédios que evitam que os rins transplantados apodreçam. Estavam lá também representantes dos hospitais filantrópicos que atendem ao SUS e estão ameaçados de fechar, como o Regional de Arapiraca, o Santa Rita de Palmeira dos índios, a Santa Casa de Penedo. Eles não tiveram vez. O grupo ensandecido saiu em direção ao Palácio dos Martírios, para tentar uma audiência com o governador, que não foi realizada. Embora Lula considere o SUS perfeito, em todo o País a situação da saúde pública é caótica. Alagoas recebe per capita, seis reais por mês, para cuidar de seus muitos doentes e doenças. Aqui a situação ainda é agravada porque os hospitais filantrópicos que atendem a uma grande quantidade de pobres do SUS, com desvelo e a um custo muito baixo, não tem tido nenhuma ajuda do poder público. Pelo contrário, atendimentos feitos por estes hospitais, inclusive a pacientes com câncer, não tem sido pagos por falta de recursos. Para complicar ainda mais, o governo não cumpre a PEC que determina o repasse de recursos do Estado para a saúde, agravando o quadro critico. São problemas que ameaçam a sobrevivência de muitas vidas, que gostaríamos que não existissem, mas existem. Desculpe-me o distinto amigo, que me bafejou com valoroso conselho, mas não posso transformar a realidade, nem o bronze em carne, como fez Pigmalião. (*) É médico e professor da Uncisal.

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