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Nº 5882
Opinião

C�ncer, avan�os e otimismo

| Marcos Davi Melo * Quando me iniciei como oncologista há mais de 30 anos, os tratamentos de câncer eram muito penosos, mutilantes e tinham efeitos colaterais perversos. A cirurgia, o tratamento mais antigo, é usada para retirar tumores desde o Egito do

Por | Edição do dia 24/11/2007 - Matéria atualizada em 24/11/2007 às 00h00

| Marcos Davi Melo * Quando me iniciei como oncologista há mais de 30 anos, os tratamentos de câncer eram muito penosos, mutilantes e tinham efeitos colaterais perversos. A cirurgia, o tratamento mais antigo, é usada para retirar tumores desde o Egito dos faraós. A quimioterapia começou após a Segunda Guerra mundial, depois que a mostarda nitrogenada foi usada nas trincheiras. A radioterapia foi utilizada como arma contra o câncer logo após a descoberta dos raios-x no início do século 20. Neste tempo houve muita evolução nos tratamentos e na cura de grande parte dos cânceres. As cirurgias eram muito radicais. O maior exemplo é o câncer de mama, o mais freqüente entre as mulheres de todo o mundo. Naquela época se retirava toda a mama e o músculo peitoral, deixando as costelas à mostra; também se retiravam todos os gânglios da axila, deixando como seqüela um braço muito inchado e doloroso. Hoje, retira-se apenas uma pequena fração da mama, deixando-a praticamente intacta e apenas um gânglio axilar sentinela. Mesmo nos tumores grandes, isto pode ser feito, introduzindo a quimioterapia previamente para reduzir o tumor. A radioterapia trazia desconforto e efeitos secundários relevantes. A braquiterapia, modalidade na qual se introduz o isótopo radioativo dentro do tumor da paciente, exigia 4 dias de internação e total imobilização no leito, inclusive sem nenhum tipo de visita familiar. Hoje, com a braquiterapia de alta taxa de dose, fazemos o mesmo tratamento em 12 minutos e a paciente vai para casa imediatamente após o procedimento. A radioterapia tridimensional-conformacional, realizada rotineiramente na Santa Casa, permite elevar a dose de irradiação enormemente no tumor, enquanto o mínimo vai para o tecido sadio, reduzindo extraordinariamente os efeitos secundários. Ainda temos grandes desafios. São mais de 100 doenças muito diferentes catalogadas como câncer. Avançamos na cura de muitas delas; outras como o câncer do pâncreas e do pulmão, ainda não. Existe um grande conhecimento acumulado, decorrente de exaustivas pesquisas, como as realizadas com os genes e os caminhos percorridos pelos sinais bioquímicos no interior das células malignas. Concretiza-se a identificação das moléculas responsáveis pela transformação maligna das células, também da proliferação dos vasos sanguíneos que as nutrem. Assim delineando-se o “design molecular”, avança-se no uso de drogas específicas, que trazem resultados muito efetivos e poucos efeitos colaterais, inclusive para pulmão. Existem razões para otimismo. (*) É médico e professor da Uncisal.

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