As metamorfoses ambulantes
| Marcos Davi Melo * Gregor Samsa acordou certo dia e constatou com horror que se transformara em um imenso e repelente inseto. Assim começa a novela A metamorfose de Kafka, que no seu desenrolar mostra que Samsa detestou as abomináveis transformações qu
Por | Edição do dia 08/12/2007 - Matéria atualizada em 08/12/2007 às 00h00
| Marcos Davi Melo * Gregor Samsa acordou certo dia e constatou com horror que se transformara em um imenso e repelente inseto. Assim começa a novela A metamorfose de Kafka, que no seu desenrolar mostra que Samsa detestou as abomináveis transformações que seu corpo sofrera e passou a viver como uma barata escondida nos cantos de seu quarto. Passou a ser rejeitado por toda a família, até mesmo a mãe e a irmã, seres que mais amava no mundo. Esta semana, durante o lançamento do PAC da Saúde, Lula diante de mais uma flagrante contradição entre o que dizia quando era oposição e o que faz agora no poder; declarou-se uma metamorfose ambulante. Isto porque quando a CPMF foi lançada, ele e o PT que eram oposição, meteram cacete no governo, que lançava mais um imposto para sacrificar o já castigado contribuinte brasileiro. Dissecaram todas as mazelas reais e imaginárias do então execrado tributo. FHC também depois de entronizado, implorou a todos que esquecessem tudo o que tinha escrito antes. Assumiu inteiramente a feição metamorfósica que tanto tucanos como petistas assumem sem maiores constrangimentos. Discurso de oposição é uma coisa, ser poder é outra totalmente diferente; esta é lamentável realidade nacional. Paralelamente a Polícia Federal executava mais uma estrondosa operação em Alagoas, a Taturana. As ações se dirigiam contra uma organização que entre outras coisas sonegava impostos na Assembléia Legislativa, instituição que invariavelmente tem causado frustrações e dissabores à sociedade alagoana. Aquela casa tem um histórico deplorável, que remonta ao mata-mata que se realizou em suas dependências. Agora as acusações são de gigantescas malversações dos recursos públicos. Se, por um lado tudo que se puder fazer para normalizar o Estado seja salutar, não deixa de ser lamentável que mais uma vez Alagoas seja o principal motivo do opróbrio nacional. Embora seja um considerável avanço no saneamento local, muita coisa ainda precisa ser feita neste caso e também no que se refere ao combate à violência, hoje principal angústia de todos nós. Raul Seixas que popularizou entre nós o termo metamorfose ambulante deixou um legado de músicas muito porras-loucas, algumas delas até muito engraçadas. Como o seu parceiro na época era totalmente desconhecido, a maioria das letras, embora fosse de autoria do então anônimo Paulo Coelho, ficou creditada ao barbudo cantor. A sua metamorfose era inocente e saudável, nem kafkiana, muito menos brasiliense. (*) É médico e professor da Uncisal.