app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5882
Opinião

Antinomias

| Eduardo Bomfim * Quem viu o filme Danton, o processo da revolução, teve a oportunidade de assistir a uma boa obra cinematográfica, e igualmente, a um episódio da revolução francesa que mudou os rumos da humanidade. O enredo aborda a incompatibilidade

Por | Edição do dia 11/01/2008 - Matéria atualizada em 11/01/2008 às 00h00

| Eduardo Bomfim * Quem viu o filme Danton, o processo da revolução, teve a oportunidade de assistir a uma boa obra cinematográfica, e igualmente, a um episódio da revolução francesa que mudou os rumos da humanidade. O enredo aborda a incompatibilidade entre duas das principais figuras que lideraram os combates contra a monarquia e instauraram os tempos da Marselhesa. Foi rico e dramático o conflito entre duas correntes, de pensamento e ação, que se encontravam no olho do furacão. Elas eram representadas pelos revolucionários Danton e Robespierre. Danton defendia o fim dos julgamentos populares que já haviam levado à guilhotina centenas de personalidades do antigo regime monárquico, dos novos adversários que se contrapuseram aos caminhos percorridos. Já Robespierre defendia a continuidade dos instrumentos da revolução. Um considerava que muitas cabeças tinham sido decapitadas, o sangue derramado em profusão, e era o momento de institucionalizar o Estado de Direito, com a garantia de um sistema jurídico isento das paixões da época. O outro, a convicção de que sem os tribunais populares e revolucionários, a derrota seria inevitável e o velho regime voltaria degolando a todos. Os inimigos, internos e externos, estavam por toda a parte. A França encontrava-se cercada por nações ávidas em abortarem a “subversão tricolor”. Mas os ecos da Marselhesa baseavam-se nos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Em normas jurídicas jamais abraçadas por monarcas ou imperadores, asseverando direitos e deveres aos cidadãos, correspondendo às necessidades da emergente burguesia e demais classes sociais, sufocadas pela aristocracia violenta, inútil e parasitária. Os dois personagens foram guilhotinados, devorados pela própria revolução. Entrou para a História a frase de Danton em seu julgamento, que poderia ser aplicada, pouco tempo depois, a Robespierre: “Este não é um processo jurídico, é um processo político, sendo político não é um processo, é um duelo desigual”. O sistema burguês perseverou, apesar do surgimento de grandes movimentos populares, pela emancipação social dos trabalhadores, dos setores médios, às lutas pela soberania nacional. Dessas antinomias, impasses, sempre brotaram, em todas as épocas, as grandes transformações da humanidade. (*) É advogado.

Mais matérias
desta edição