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Nº 5882
Opinião

Os seios refrescados

| Marcos Davi Melo * Quando no auge do calor e da festa, sob os acordes esfuziantes de um frevo-canção de Capiba, o suor escorria ensopando a roupa da moça, o rapaz com quem vinha trocando olhares apaixonados, a cercava e lhe aspergia um frio jato de lan

Por | Edição do dia 19/01/2008 - Matéria atualizada em 19/01/2008 às 00h00

| Marcos Davi Melo * Quando no auge do calor e da festa, sob os acordes esfuziantes de um frevo-canção de Capiba, o suor escorria ensopando a roupa da moça, o rapaz com quem vinha trocando olhares apaixonados, a cercava e lhe aspergia um frio jato de lança-perfume em seus arfantes seios – prenunciava-se um idílio. O choque do gélido do cloreto de etila com a fogueira do seio da jovem, não era uma ação hostil, pelo contrário; muitas vezes foi o primeiro ato de sedução, o presságio de uma história de amor, que transposto o carnaval, perdurou, levou o casal ao altar e redundou em uma grande e harmônica família. Eram os áureos tempos dos grandes bailes carnavalescos dos clubes sociais de Maceió da década de 60; quando, adolescente, fui atraído pelo inebriante reino de Momo, paixão que nunca mais me deu uma trégua. Esta peculiaridade do carnaval, a sensualidade, associa-se aos primórdios da maior festa popular brasileira. Os estudiosos afirmam que as suas origens remontam às festividades do culto da deusa egípcia Isis, entidade basilar da mitologia egípcia. O culto de Isis, deusa da primavera e da fertilidade, protetora da natureza, ocorria sempre no início dos plantios ou das colheitas, quando descia a terra e os mortais reuniam-se em sua volta, rendendo graças à vida, com muita música, dança e cantorias, para que os frutos crescessem e fossem bons. Em certo momento, Isis tornava-se ainda mais provocante e sedutora, atraindo o companheiro Osíris, quando o casal se entregava aos mais íntimos e profundos prazeres da carne. A origem do carnaval também é associada à mitologia grega, através do culto de Dionísio, assim como o seu equivalente romano, Baco, com as lupercais, bacanais e saturnais. Traço comum e predominante nestas festividades, era a quebra dos rigores do cotidiano. Um período de euforia, breve e fugaz; seguido por um longo, rígido e metódico, de resignação. Tal como ainda hoje ocorre no carnaval; embora não tenhamos mais o lança-perfume para refrescar os túmidos seios das moças. Carnaval, cujos primeiros clarins já se escutam entre nós, através de suas prévias, como o Mungunzá do Pinto, que se realizará hoje na Ponta Verde; com muito frevo, danças e cantorias. Pinto da Madrugada, bloco que muito tem crescido em tamanho, custos e no depenar para continuar sua trajetória, mantendo vivas entre nós as verdadeiras tradições do carnaval, aberto a todos os que o apreciam, sem cordas e sem nunca abrir mão de seus compromissos com a nossa cultura e as nossas tradições. (*) É médico e professor da Uncisal.

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