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Nº 5697
Opinião

As rotinas da vida .

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Por Alberto Rostand Lanverly - presidente da Academia Alagoana de Letras e do IHGAL | Edição do dia 17/04/2024 - Matéria atualizada em 17/04/2024 às 04h00

Encontrava-me em uma fila de banco quando notei, um pouco atrás de mim, uma senhora falando muito. De início, o som de sua voz pareceu-me desagradável. Contudo, mais atento a seus dizeres, passei a admirá-la quando afirmou que “estava cansada de trabalhar, cruzando todos os dias com as mesmas pessoas e, ao chegar em casa, encontrando tudo do mesmo jeito, inclusive a mesma comida para o jantar”. Olhei para trás, como se estivesse vendo o infinito formado pelo encontro das paredes, no final da sala, e vislumbrei o rosto da queixosa, uma figura pálida, pele de tom bege, um pântano em cada olho e uma boca que mais parecia o Vesúvio, a expelir lavas incandescentes.

Pouco depois, cumpri minha tarefa bancária e deixei o local, sem esquecer a tagarela. Imaginei como a rotina podia ser tão desagradável para algumas pessoas, chegando a crucificá-la por, teoricamente, ser a motivadora do desânimo diário de determinados seres viventes. Coloquei-me então no epicentro de uma situação idêntica e compreendi a importância e a felicidade de repetir sempre as coisas boas da vida com criaturas com as quais compartilhamos o cotidiano que Deus nos deu.

Cinco horas da manhã, caminhada na praia, ao lado de andarilhos, com o mesmo objetivo. Nessa hora, não somente esgotamos nossos risos e mentiras, mas também recarregamos as baterias para uma nova jornada que se inicia.

Se a rotina é ter medo do incerto, também pode ser interpretada como a repetitividade que magoa. Pensei, novamente, na senhora da fila do banco, que, alias, tinha outra característica inesquecível: seios colossais, como os de um animal de estimação super alimentado, fazendo-me imaginar que o grande triunfo da sua vida ocorreria, se ela desenvolvesse algum tipo de amor ao próximo.

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