Opinião
Por um novo momento

| JOSÉ MAURÍCIO BRÊDA * Encontro um médico amigo que se diz preocupado com colega candidato a cargo eletivo. Conhecendo de perto o pretendente, pergunto o porquê de sua aflição pelo fato daquele enveredar pela arte de cuidar dos negócios públicos. Um homem sério como ele, vai se misturar com esses tipos que temos aí? Fez-me lembrar Raymond Chandler (1888-1959), em a Dama do Lago, quando seu principal personagem e detetive Philip Marlowe questiona o delegado pela desonestidade de seu corpo policial. No que ele responde: Esses assuntos de polícia são um inferno de problema. É muito parecido com a política. Exigem homens melhores e mais idealistas, mas não existe nada nela que atraia esse tipo de homem. Assim, temos de trabalhar com pessoas que conseguimos... e acabamos arranjando coisas assim. Sem querer generalizar, mas, se olharmos em volta, é o que ocorre em nosso meio. Somos os principais culpados pelo que está acontecendo. Se moramos em condomínios, na maioria das vezes, não queremos ser síndico, secretário ou qualquer outro cargo que nos dê trabalho ou tire nossas horas de lazer. Se somos sindicalizados, damos lugar aos menos capacitados, porém aproveitadores, para nos dirigirem e se perpetuarem nos cargos. Reclamamos que se vendem votos, mas será que não compactuamos com esta situação quando votamos num candidato por ser nosso amigo, mesmo sabendo de suas segundas intenções? Quando, numa eleição, buscamos qualquer favorecimento, somos piores que um pobre homem que troca seu sufrágio por dinheiro. A ignorância, nesta hora, prevalece sobre o conhecimento, pela necessidade. E infelizmente a ignorância é a maioria. Agora, quando temos a oportunidade de eleger homens melhores e mais idealistas, devemos estimulá-los a ingressar em arte tão nobre, muito embora ela não venha sendo exercida como tal. Está mais do que na hora de começarmos uma mudança, lenta e gradual, incentivando pessoas como um renomado cardiologista que, candidato a vereador em cidade interiorana, pode iniciar, juntamente com outros do mesmo quilate, que já aí estão, um novo momento para que não tenhamos que assistir a políticos, abertamente, nos microfones, pretenderem aumentar salários de todo o corpo do poder do qual têm mandatos, e que passa por maus momentos, para assim satisfazer valores de duodécimo, como se os mesmos donos do erário fossem. É a única maneira de darmos um basta a tudo isso. (*) É bacharel em Economia.