A identidade do meu lugar .
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Por Alberto Rostand Lanverly - presidente da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 20/11/2024 - Matéria atualizada em 20/11/2024 às 04h00
Recordo que em minha adolescência costumava vagar por ruas de Maceió, atento a detalhes que poucos pareciam notar, momento em que nomes se desenhavam como traços de história, remetendo a figuras e eventos que deram robustez ao lugar.
Já a linguagem visual dos prédios e das praças me fascinavam; havia algo de matemático e poético em cada ângulo, linha e curva que moldavam aquela paisagem urbana.
Observava como cada construção refletia uma época, estilo ou função, como peças de um quebra-cabeça tridimensional que contava silenciosamente a história de nosso povo e sua cultura.
Se, por um lado, as formas geométricas, presentes em todos aspectos da natureza e criação humana, pareciam exercer influência profunda em minha vida, por acreditar que desde tempos antigos elas foram usadas para dar ordem ao caos, organizar espaços e entender o mundo, por outro, suas simetrias ousadas me emprestavam não apenas, senso de estrutura, mas também beleza e significado.
Já os nomes dos logradouros públicos representavam para mim fragmentos vivos da fluidez do tempo, verdadeiros faróis que iluminavam o passado da minha cidade, cada artéria ou logradouros batizados, carregavam em si homenagem ou lembrança de figuras, acontecimentos e características que, por vezes, escapam à memória popular.
Quem teria sido José, cujo nome atravessa gerações estampado em uma placa? Que histórias trouxe consigo Maria, inspirando uma rua que acolhe incontáveis passos e lendas anônimas? E o “Beco do Tostão”, qual segredo antigo abriga, lembrança talvez de tempos em que moedas eram cunhadas ou trocadas ali, simbolizando o comércio e a vida econômica de um período específico?
Hoje, entendo que se, por um lado, as formas geométricas são símbolos e ferramentas que ajudam a compreender a vida e a encontrar sentido na complexidade do universo, por outro, os batismos das ruas não são apenas referências geográficas, pois criam forte conexão entre presente e passado, revelando traços culturais e sociais que formam a identidade do meu lugar.