“Uma pessoa só morre quando morrer a última pessoa que o conheceu”.(Sartre). Parece insólito que uma pessoa nascida como outsider nas leis sociais, de um pai rico que nunca quis que ele estudasse, mas fosse condenado a financiado por este, transportar água num jumento – do cacimbão à cidade, para auferir alguma moeda.

Numa intrepidez pungente, o Biu adolescente e pleno da inteligência distribuída pelo Absoluto, convenceu a um motorista de caminhão transportá-lo até Maceió, onde na Rua do Sol, abrigou-se numa hospedaria junto ao galinheiro, porque não podia pagar a estalagem. Daqui, ele conseguiu estudar na Escola Agrícola de Satuba, onde por vezes várias manga verde foi seu lanche. Benedito de Lira mostrou liderança estudantil cedo e vocação política. Lira só escapou de um inquérito sob o AI-5, secundado pela moderatez de Adelmo Machado, o arcebispo metropolitano.

Em 1966, Benedito de Lira já era vereador em Junqueiro, amparado pelo deputado Tarcisio de Jesus, que disse: - você tem o background de uma vocação politica. Assuma. Num comício, iluminado pelas luzes dos faróis do jipe Garacuma do Tarcísio , eu estava lá. Essa conversa, nós revivemos em 2016, quando juntos almoçamos no Engenho Cambuí, minhas origens e Benedito de Lira Senador que agora frequentava por Teresa, segunda mulher, vestida da sensualidade de Scarlett Jonhanson. A primeira, Ivanete, mãe de Artur, foi minha querida professora de matemática do Ginásio de Junqueiro. Nos reencontramos numa solenidade de reentronizacão da imagem pequenina da Senhora da Conceicão padroeira da capela do Engenho. Pela forca da fé, resolveu partos complicados naquelas plagas.

Desconfio que essa interação do Senador comigo era pela origem de classe média baixa, e à intrepidez comum a nós . Então, à introdução da missa, ele quis me dar a vez de entrar primeiro: - entra João!, retruquei-lhe: - vossa excelência é um Senador da República! Adiante, sou apenas um médico cirurgião. No discurso inaugural no Senado, ele disse: “venho de muito longe e agora perpassa uma caminhada de vereador, deputado estadual, federal e Senador mais votado na legislatura que o consagrou com 904.345 votos válidos e 35,94% da votação.Uma lágrima furtiva assinalou a emoção explêndida!

Não vou exauri-los com o que realizou o Senador Benedito de Lira. Apenas dizer que “nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento – a Junqueiro pequenina -, e tantas para a sepultura”.(Pe. Antonio Vieira, 1608/1697).

A cerimônia do adeus do Senador foi uma apoteose política e seu talento, geneticamente transmitiu ao filho Artur, alagoano, que de Brasília arregimenta o Brasil.