Um amigo de peso .
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Por Marcos Vasconcelos Filho – ensaísta (autor, entre outros livros, da biografia “Marcos Bernardes de Mello: mestre de fato e do Direito”) | Edição do dia 24/01/2025 - Matéria atualizada em 24/01/2025 às 04h00
Cadê o Marcos?, perguntara por mim.
Sepultava-se no Campo-Santo Parque das Flores nossa amiga dona Raquel Portela de Melo (1911-2004), senhora distinta, de iniciativas altruístas, e ainda sua contraparente, porque viúva de um primo em grau distante: o médico, político e escritor José Maria de Melo (1906-1984).
– Está ali, respondera o meu velho.
(Sorrisos francos antecedem o largo abraço do gordo no magro).
Naquela época, lia ele todos os meus contínuos artigos na imprensa, em especial na “Gazeta de Alagoas” e no saudoso “O jornal”.
Tempo bom, aquele: eu despertava já aos primeiros raios do sol, inda sob o orvalho matinal, e aguardava o jornaleiro lançar, por sobre o muro do jardim, o exemplar do dia. Era de uma emoção só correr os olhos ansiosos pelas páginas primeiras e constatar um texto da minha autoria a se imprimir.
Conhecia-o também dos veículos noticiosos. Na verdade, desde menino nos ligáramos ao escritório jurídico de seu pai e nosso xará, porquanto causídico, em meio às desavenças político-administrativas interioranas, do histórico Hospital Nossa Senhora da Conceição (santa casa da qual Marcos Vasconcelos sênior era, naqueles dias, provedor).
No meu conceito, fora sempre o advogado por excelência, seja nas lides particulares ou em representações a favor dos vulneráveis (na brevíssima investidura de defensor) e da máquina pública (como procurador do Estado).
Real entusiasta da família (tal qual o seu admiradíssimo “painho”, junto a sua “mainha” Onira), vivia ele (sobretudo empós aposentar-se) a curtir as filhas, os netos, os seus todos (sem se ausentarem outros companheiros de alegria: acepipes, comida boa, tibungos na piscina e doses à “riserva”) naquele refúgio doméstico em Guaxuma, paraíso onde recuperava as forças, face aos embates, com garra, transparência e muita fé (conforme apreciava repetir).
Enquanto o coronavírus constrangia o mundo, estreitávamos a amizade.
A contar do meio de 2020, iniciei as entrevistas virtuais junto ao seu progenitor, protagonista da biografia intelectual sob o título “Marcos Bernardes de Mello: mestre de fato e do Direito”.
No livro, inclusive, está o primogênito presente desde a dedicatória de relembrança até acontecimentos alguns, a exemplo das candidaturas vitoriosas pros dois triênios de gestão na seccional Ordem dos Advogados do Brasil (2007-2012) e das passagens pelas Associação dos Procuradores do Estado de Alagoas (APE-AL) e Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (Anape), da qual se tornaria presidente de honra.
Avulta. Sou-lhe grato, pois, ademais de tudo, estimulava-me: nos natais e anos-novos, adquiria exemplares das minhas publicações para presentear.
O destino, porém, seria traiçoeiro consigo. A sedução pela vida eletiva – logo em desengano a se avessar –, bem assim a paixão pelo Centro Sportivo Alagoano (CSA) – numa fase póstera àquela de quando os clubes guindavam seus dirigentes na política local –, somatizaram a cantata da sereia. Ecoou, ao revés, o canto do cisne.
Sobrevive, todavia, a imagem, vívida, daquela personalidade forte, mas cujo corpanzil não superava o tamanho do seu gigante coração de infante.
Omar Coêlho de Mello (Maceió, 20 dez. 1960 – São Paulo, 25 maio 2023) era, na vera, um amigo, literalmente, de peso.