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Vida de cinema: Cacá Diégues

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Morreu Cacá Diegues. O cineasta que tinha Alagoas dentro dele. Cacá já nasceu embebido de brasilidade, oriunda do pai Manuel Diegues Jr., do ‘Banguê das Alagoas e das ‘Culturas e etnias do Brasil’.

Não, não! Cacá não morreu. Você só morre quando morrer a última pessoa que o conheceu (Sartre). Cacá brotou capixaba, quando o pai prestava trabalho ao IBGE no Espírito Santo, mas chegou em Maceió mal saído dos cueiros aos 2 anos e dela se impregnou até o seu âmago. Também dos siris pescados no riacho Salgadinho, do coreto de Jaraguá, da praça Sinimbu, dos passeios pelas lagoas em canoas e jangadas. A infância é ‘minha pátria’, assinalou Proust e ele aqui se fez até os 6 anos, quando Diegues Jr. migra para o Rio de Janeiro. Porém sua casa era uma embaixada alagoana. Não faltava carapeba, doce de coco, sururu de capote. E nas férias de verão a família pousava em Maceió por 3 meses. Foi o suficiente para Cacá viver eternamente em Maceió sempre: seja nos filmes, seja na alagoanidade do ‘põe água no feijão’, chegou mais um pra almoçar.

Não importa a memória, disse Cacá. O que importa é o que se aprende dela. Tia Amélia, solteirona, tinha um único programa que podia fazer sozinha sem ficar exposta pela língua provinciana. E levou Cacá ao cinema São Luís, já extinto, dos 5 para 6 anos. Quando a porta lateral do cinema que dava pra rua se abriu, a luz acachapante o ofuscou e aturdido ele caiu num mundo nunca antes imaginado. Ficou sem fôlego pela luminosidade das imagens prateadas na tela, abriu o relato de sua autobiografia ‘Vida de cinema’ (Objetiva, 2014.) Esse encantamento arrebatou-o pela vida inteira. E ‘há sempre um copo de mar/para um homem navegar”, disse Jorge de Lima, o poeta preferido do cineasta, que terminou filmando a obra ‘O grande circo místico’ do bardo. E Cacá jamais abdicou de ter um pé plantado no sonho. Esse vaticínio de Jorge se realiza e se traduz em cinema, saudou-o Geraldinho Carneiro ao recepcioná-lo na Academia. Cadeira 7, que substituía Nelson Pereira dos Santos, o cineasta de Vidas Secas e Memórias do Cárcere.

Seu mundo mágico foi povoado pelas estórias que Bazinha, a descendente de escravos, contava como a que afirmava que Zumbi nunca morreu, se escondia perto da Serra da Barriga e podia até voar. A obra fica para os especialistas. Eu sou um amante do cinema, impregnei minhas filhas dessa arte e agora meus netos.

O filósofo Cacá disse: “A grandeza do homem não é a sua fidelidade ao passado ou às origens, mas a sua capacidade de criar alternativas, inventar destinos novos.”

Cacá tomou um ‘Trem para as Estrelas’ e ficará eternamente no céu de Alagoas e do Brasil, quiçá da orbe.

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