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As armas de cada um

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Consta que nos tempos mais tenebrosos da intolerância, no Alabama, um negro alto e forte ousava bater de frente com as estruturas do racismo local. Um dia, a poderosa Ku Klux Klan conseguiria botar as mãos no nosso herói. Sob a égide do decantado espírito democrático americano, foi-lhe oferecida chance de sobrevivência. A proposta era para um desafio nos moldes dos circos romanos. O Hércules negro teria que enfrentar indócil leão de circo, temido nas redondezas pela teimosia em atender aos chicotes dos domadores. Na macabra noite, o prisioneiro teria o corpo enterrado no centro de um campo de beisebol. Apenas pescoço e cabeça não estavam soterrados. De repente, um medonho rugido fez a sequiosa platéia ir ao delírio. É que o rei dos animais adentrou-se intuindo que finalmente iria quebrar sua abstinência alimentar de uma semana. Avistando o animal aproximar-se cada vez mais rápido, o negro do Alabama articulou desesperado plano. Assim, no exato momento em que a faminta criatura deu o bote, fletiria o pescoço para se livrar da bocarra para logo a seguir levantar a cabeça na vã tentativa de morder os leoninos testículos. Foi aí que se ouviu inacreditável coro: “Lute limpo, covarde!” Essa história requentada, e aqui já antes exposta, tem utilidades variadas. Agora mesmo, serve de gancho para satisfazer a amigos que têm estranhado a abstenção de comentários sobre as eleições americanas. Como a maioria das pessoas, também achei que seria pouco provável a vitória do afro-descendente Barack Hussein Obama. Tudo conspirava contra. A começar pelo nome, que lembra Osama, inimigo número um do império e cérebro do fatídico 11 de setembro, incurável ferida narcísica da alma ianque. Mergulhado em duas guerras insanas, vivenciando espantosa crise financeira e com um hóspede da Casa Branca, do partido oposto, em descrédito, de repente, a população americana pôs as fichas na juventude do ambicioso senador. Respaldado por um arsenal financeiro milionário, Obama, segundo observadores do ramo, foi contemplado com uma estratégia de campanha que beirou a perfeição. Como lá as regras são essas, dificilmente alguém lhe pediria para “lutar limpo”. Decantada a poeira do resultado, cientistas políticos, curiosos e outros palpiteiros começam a aterrizar. Se a tez escura funcionou como um dos símbolos de ruptura com o passado, justificando a gloriosa votação, doravante o que vai contar mesmo é a competência. (*) É médico e professor da Ufal.

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