Urbanidade aviltada

Termo recorrente, “urbanização” deixa a desejar quando usado para explicar o inchamento das cidades como destino e conseqüência do êxodo rural desprovido de quaisquer planejamentos. Inchadas através desses processos de expulsão de incontáveis famílias das áreas rurais, as urbes não crescem como tal, estendendo para as novas populações conceitos e práticas da urbanidade. Estudiosos deste tema insistem na tese de que as cidades inchadas sofrem uma “ruralização”. Não que as normas de convivência urbana sejam superiores ou inferiores às normas rurais de convivência – apenas são diferentes, cada qual apropriada para seu meio. A transição forçada de um meio a outro provoca problemas decorrentes da incompatibilidade de alguns procedimentos típicos de um meio simplesmente transplantado para outro. As fogueiras de São João a comer os pisos asfálticos das ruas urbanizadas (durante o período junino, assim como o esburacamento de ruas e calçadas para colocação dos “mourões” usados nas típicas festas rurais) representam um desses problemas. Em Maceió, um desses reflexos negativos está situado nas camadas mais favorecidas. E se manifesta, dentre outras formas, no trânsito caótico, onde o número de “guardas” é insuficiente para cobrir a multiplicação de infrações “banais” como o estacionamento irregular e as conversões proibidas (antes coibidas pelas câmeras automáticas). Artérias importantes como a Rua do Sol e a Álvaro Calheiros são tratadas como trilhas de fazendas, onde se estaciona onde bem quiser, a qualquer hora. Certos pontos em avenidas, como nas proximidades do Clube Fênix, tornaram-se áreas sem quaisquer normas de trânsito. Talvez “ruralização” não seja a denominação mais apropriada por sugerir discriminação contra a cultura rural. “Anarquização” seria mais adequada? Ou...