Polícia
Prefeita defende marido e vereador

REGINA CARVALHO Repórter Em entrevista coletiva concedida ontem, a prefeita de Rio Largo, Vânia Paiva (PMDB), defendeu o vereador Alexandre Cardoso da Silva, o Júnior Pagão, o homem mais procurado pela polícia, hoje foragido, acusado de comandar uma superquadrilha envolvida em seqüestros, assaltos, roubos e furtos de veículos e crimes de pistolagem e que foi expulso do Partido Verde (PV) por suspeita de envolvimento com o crime organizado. Ele é um homem íntegro, de bem. É do nosso grupo político. Uma pessoa amiga. Um homem que trabalha para o povo de Rio Largo, detalhou a prefeita. Questionada se sabia do envolvimento de Júnior Pagão em crimes, a prefeita disse que sabia sim, mas que isso já faz muito tempo. No passado, soube do envolvimento dele em crimes. Mas acredito que se regenerou. Isso acontece com muita gente, destacou Vânia Paiva. Ela criticou a atuação da polícia durante a operação ocorrida na última terça-feira, que culminou com a prisão de seu marido, o coordenador de Planejamento da Prefeitura de Rio Largo, Ricardo Schavuzzi, e mais doze pessoas. Invadiram minha casa de praia sem mandado judicial. Perguntei aos policiais, eles disseram que era para eu procurar o Davino (diretor-geral da Polícia Civil). Estou indignada com o que aconteceu, disse Vânia. Sobre a citação de seu nome e do marido como responsáveis pelo incêndio na Secretaria de Finanças de Rio Largo, em outubro de 2004, a prefeita declarou que tudo não passa de uma grande mentira. Quem tem que explicar isso é a Justiça e não eu. Tudo que foi pedido pelo Tribunal de Contas foi dado. O banco tem todos os cheques. Meu marido é um homem de bem, rebateu. Vânia Paiva informou que não vai se intimidar ou mudar sua rotina por causa da investigação policial e por isso vai continuar trabalhando normalmente na prefeitura. Isso não mancha minha carreira política. Vou mostrar meu trabalho ao povo de Rio Largo, disse. Ela afirmou, ainda, que a família Pagão (leia matéria na página 14) é conhecida há muito tempo de seus parentes, mas que sua relação com Júnior Pagão é apenas política. Ele é de uma família tradicional daqui. São pessoas conhecidas de todos em Rio Largo, acrescentou. ### Delegado diz que prisão de Schavuzzi foi legal A prefeita informou que ainda não teve contato com o marido, que continua no presídio Cirydião Durval, e que também ainda não estava definida a candidatura de Ricardo Schavuzzi para deputado estadual. Não tem nada decidido. Sabíamos apenas que seria uma pessoa do nosso grupo político que sairia como candidato. Ainda não conversei com meu marido, mas tenho certeza da inocência dele, concluiu. O delegado de Rio Largo, Marcílio Barenco, que iniciou o trabalho investigativo há mais de 60 dias, para desbaratar a superquadrilha, rebateu a acusação de Vânia Paiva de que os policiais invadiram sem mandado judicial a casa de praia da família, em Tabuba, na Barra de Santo Antônio, quando prenderam Ricardo Schavuzzi, e mostrou o mandado expedido por juízes que compõem a força-tarefa contra o crime organizado. Ela [prefeita] diz que a prisão do marido foi irregular, o que não é verdade, afirmou o delegado, que ficou irritado com as declarações de Vânia Paiva. Barenco promete, ainda, revelar mais detalhes sobre a quadrilha e divulgar novos nomes de pessoas influentes que teriam envolvimento com crimes. Habeas-corpus Adriano Soares, advogado de Schavuzzi, avisou que, de posse da cópia do inquérito policial, vai entrar com pedido de habeas-corpus ainda hoje. Tudo que saiu até agora foi apenas especulação. Já são 48 horas que ele está preso sem saber o porquê da prisão, declarou. Soares acredita que o pedido de soltura deve ser analisado rapidamente. Ainda não sabemos se será no Tribunal de Justiça ou no Superior Tribunal de Justiça, disse o advogado. ### Incêndio suspeito pode indiciar Pagão GILVAN FERREIRA Repórter A Polícia Civil já tem elementos para indiciar Carlos Jorge Cardoso da Silva, o Jorge Pagão, pela autoria material do incêndio na secretaria municipal de Finanças de Rio Largo, que ocorreu em outubro de 2004. Jorge Pagão é tio do vereador Júnior Pagão, acusado de ser um dos líderes da superquadrilha de seqüestradores, e que foi preso na última terça-feira durante a operação Mata do Rolo. Pelas investigações da polícia, Jorge Pagão teria recebido a orientação do esposo da prefeita de Rio Largo, Ricardo Schavuzzi, para planejar o incêndio na Secretaria de Finanças de Rio Largo, o objetivo seria apagar vestígios de supostas irregularidades na administração da prefeita Vânia Paiva, durante os vários períodos que assumiu o cargo por decisão da Justiça. Além de Jorge Pagão, o incêndio teria tido a participação de outro integrante do grupo de Júnior Pagão: Valdemir de Araújo Silva, o Dema. O Jorge Pagão, que era considerado o homem de confiança da quadrilha, recebeu ordens para incendiar a Secretaria de Finanças. Ele planejou o crime com ajuda do Júnior Pagão e do Ricardo Schavuzzi. O Jorge Pagão também recebeu o apoio do Dema para executar o incêndio na Secretaria de Finanças. Eles entraram na secretaria, que não tinha vigia naquela noite, e foram diretos para o setor onde estavam os documentos. A orientação era para que o prédio da secretaria e outra parte da documentação não fosse destruída, por isso, eles usaram óleo diesel, que não tem uma combustão tão rápida como a gasolina, explicou um dos policiais que participaram das investigações sobre o incêndio na secretaria. Segurança reforçada Ontem, a Secretaria de Defesa Social deslocou um novo efetivo para reforçar a segurança do delegado Marcílio Barenco, que foi ameaçado de morte pelo vereador Júnior Pagão. Quatro policiais civis que faziam a segurança do ex-secretário de Defesa Social, Paschoal Savastano, foram deslocados para reforçar a segurança de Barenco, que garantiu que continua no comando das investigações para prender o vereador Júnior Pagão e mais quatro integrantes da quadrilha, que tiveram as prisões decretadas. Habeas-Corpus O desembargador Orlando Manso deve julgar hoje o pedido de habeas-corpus impetrado por Adriano Soares, advogado de Ricardo Schavuzzi. Ontem, a expectativa era que o desembargador Orlando Manso se averbasse suspeito por sua suposta ligação de amizade com a prefeita Vânia Paiva. Schavuzzi foi transferido ontem de uma das celas do presídio Cirydião Durval para uma cela especial no presídio Rubens Quintella. ### Polícia aponta 20 anos de crime organizado EDNELSON FEITOSA Repórter O envolvimento da família Pagão de Rio Largo com o crime organizado tem pelo menos 20 anos. É o que mostram os arquivos da Polícia Civil, onde se pode verificar casos de grande repercussão no Estado, a partir da década de 80. Existem inquéritos que investigaram, ao logo destes anos, chacinas, assaltos, roubo de carros e de carga, além de muitos crimes por encomenda. A saga da família Cardoso da Silva, narrada pela crônica policial, começou com a disputa pelo comércio de armas e munições no município, que abrangia a parte alta de Maceió. O clã estaria envolvido com a execução de um concorrente, sargento da Polícia Militar, que era conhecido como Oliveira, na porta de casa, em pleno centro da cidade de Rio Largo. Dois meses depois, os Pagão seriam autores materiais da emboscada e do assassinato do soldado PM Sergivaldo Oliveira, que tentava assumir os negócios do pai. Eles são acusados da prática de uma chacina na porta do Colégio Evanda Carneiro e de um duplo homicídio na praça da Mata do Rolo, próximo ao cemitério. Crimes ocorridos na mesma época da guerra com a família Oliveira, que são atribuídos a Nem, Jorge e Júnior Pagão. A partir daí, os integrantes da família passariam para outras ações criminosas: os assassinatos por encomenda, cometidos a mando de políticos. Segundo os inquéritos da Polícia Civil, eles teriam sido recrutados pela família Torres, que por mais de uma década dominou o cenário político em Rio Largo. Ameaçar e matar policiais não é uma coisa nova para a família do vereador Alexandre Cardoso da Silva, o Júnior Pagão, que agora tem na mira de sua arma o delegado Marcílio Barenco, que tenta desarticular uma quadrilha comprometida com seqüestros, assaltos e homicídios no município, contando, inclusive, com o apoio do Núcleo de Combate ao Crime Organizado do Tribunal de Justiça do Estado. AMEAÇAS DE MORTE Nas últimas investidas para colocar na cadeia os integrantes da família Pagão e seus cúmplices, dois delegados também sofreram ameaças de morte. O delegado Oldemberg Fonseca Paranhos chegou a pedir proteção do Tigre, o grupo de operações especiais da Polícia Civil, por meio do ofício 248/02, datado de 13 de agosto de 2002. Ele e sua equipe de policiais foram escoltados por homens fortemente armados, enquanto investigavam o assalto praticado contra o hospital geral de Rio Largo, que rendeu R$ 9 mil. As ameaças começaram quando Oldemberg, hoje na Delegacia de Maribondo, prendeu Alexandre Berto de Pontes, cúmplice de Nem e Júnior Pagão. Alexandre confessou ter participado do assalto, apontando também como envolvidos no crime José Ricardo Simeão Lins, o Ricardo Marchante, além dos soldados PMs Dalmo e Jailson. Ele delatou o grupo porque dias após o assalto sofreu um atentado à bala cometido por Fernando Kleber Hortêncio da Costa, envolvido nas ações criminosas da família Pagão. Alexandre, Ricardo, Fernando, Luís Pedro e Carlos Jorge Cardoso da Silva, este último tio de Junior Pagão, foram presos na madrugada da última terça-feira, por determinação da Justiça, numa megaoperação para cumprimento de 17 mandados de prisão. O trabalho foi comandado pelo diretor-geral da Polícia Civil, Robervaldo Davino. Atualmente, eles são acusados de participar do crime organizado. Na operação, o coordenador de planejamento da Prefeitura de Rio Largo, Ricardo Schvuzzi, marido da prefeita do município, Vânia Paiva, também foi preso. Delegados na mira No ano de 2004, outro delegado foi ameaçado pela família Pagão. Eulálio Rodrigues, que está assumindo a Delegacia de Paripueira. Ele foi desacatado por Júnior Pagão durante uma investigação de roubo, conforme Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) de número 20/04. Após mandar fazer o TCO, o delegado recebeu um recado de uma senhora, identificada por Neide, de acordo com Boletim de Ocorrência, nº 001315, datado de 28 de fevereiro de 2004, dizendo que dois motoqueiros da Mata do Rolo estavam se preparando para acertar as contas com os policiais da Delegacia de Rio Largo. As ameaças continuaram até o mês de março, quando o delegado foi transferido pela cúpula da Polícia Civil. Em defesa da família O comerciante Carlos Jorge Cardoso da Silva, tio do vereador Júnior Pagão, um dos presos na terça-feira, 31, negou o envolvimento da família em crimes e defendeu o sobrinho. A família Pagão não tem bandidos. Meu pai é um homem de bem e eu não entendo por que estamos passando por essa humilhação. Meu sobrinho (Júnior Pagão) é um homem honrado, disse Carlos Jorge, ao ser preso.