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Nº 5865
Polícia

PM enfrenta poeira na ca�a a bandidos

| MAIKEL MARQUES Repórter Santana do Ipanema - O reduzido efetivo do 7º Batalhão da Polícia Militar de Santana do Ipanema enfrenta muita poeira e o sol escaldante do Sertão no combate diário à proliferação de quadrilhas que praticam toda sorte de crimes

Por | Edição do dia 19/02/2006 - Matéria atualizada em 19/02/2006 às 00h00

| MAIKEL MARQUES Repórter Santana do Ipanema - O reduzido efetivo do 7º Batalhão da Polícia Militar de Santana do Ipanema enfrenta muita poeira e o sol escaldante do Sertão no combate diário à proliferação de quadrilhas que praticam toda sorte de crimes em 14 cidades da região, que já registra problemas de cidade grande: intenso tráfico de drogas, prostituição infantil na periferia da cidade, roubo de veículos e ainda furto de animais na zona rural. A reportagem da Gazeta acompanhou um dia de trabalho dos policiais que dão plantão no batalhão da PM em Santana do Ipanema, cidade distante 204 quilômetros da capital e que faz divisa com Águas Belas, em Pernambuco, provável origem de algumas das quadrilhas que atuam no sertão alagoano. O árduo trabalho dos policiais alagoanos, que geralmente se queixam das dificuldades ocasionadas pelo baixo salário, começa por volta das 7h30, quando é servido o café da manhã. O cardápio é resumido: café, leite, pão e manteiga, ovo e lingüiça calabresa. “Felizmente, não há falta do alimento todas as manhãs”, comenta um dos policiais que se preparavam para a operação de combate à ação de quadrilhas na zona rural do município. Depois do sinal verde do serviço de inteligência, que sai cedo para mapear a atuação de assaltantes, o efetivo recebe armamento, veste coletes à prova de balas e deixa a sede do quartel para o encontro com o incerto. Estradas de barro “A gente nunca sabe o que vem pela frente”, comenta outro policial. Quinze minutos depois do início da operação, cujo destino seriam as cidades de Senador Rui Palmeira e Carneiros, o capitão Roberto Valle [subcomandante da unidade] recebe do quartel o pedido de ajuda a um cidadão que denunciou ter sido roubado por três assaltantes na zona rural do município. As viaturas dão meia volta e rumam, por estradas diferentes, para o local onde ocorreu a ação criminosa. A correria para tentar pegar os assaltantes acontece em estradas de barro, que geralmente “são nocivas” à suspensão de qualquer veículo. Vinte minutos depois de muita correria, as três viaturas se encontram no ponto onde estavam os três acusados de ficar à beira da estrada à espreita de agricultores que circulam a pé com dinheiro no bolso. Naquela manhã de terça-feira, os três acusados foram reconhecidos por um vendedor de leite. “Nem o leite eles deixaram”, reclamou a vítima. FALTAM motos Segundo o capitão Roberto Valle, é crescente a escalada de crimes na zona rural dos 14 municípios vinculados ao 7º Batalhão de Polícia Militar de Alagoas. A força policial nem sempre consegue vencer a guerra contra os “larápios do sítio” por uma razão bem simples: faltam motocicletas para deslocamento em terrenos íngremes e de difícil acesso para carros, uma característica da região sertaneja. “Temos três motos e uma está baixada [quebrada]. Precisaríamos de outras três para combater o crime na zona rural da região”, observa o subcomandante do batalhão. ### Polícia infringe até lei para pegar ladrão Carneiros - Depois da prisão dos três assaltantes, que foram encaminhados à delegacia da cidade, o grupo de dez policiais deu uma parada para abastecer a viatura e tomar água potável para suportar o calor do Sertão antes da operação de combate ao crime em Senador Rui Palmeira e Carneiros, cidades onde somente é possível chegar por estradas de barro e nas quais o desrespeito à legislação parece ser coisa rotineira. No trajeto de Santana à cidade de Carneiros, muita poeira e risco constante de acidentes em estradas esburacadas, onde o contraste entre o atraso social [representado pelos carros de boi] e veículos de última geração é algo constante. Assustados, agricultores olham com desconfiança a movimentação policial e ressaltam o aspecto positivo da presença dos militares na região. “A gente vive meio esquecido. Quase não temos polícia” confessou um agricultor que trafegava de bicicleta. Sem capacete Ao deparar-se com o primeiro veículo suspeito - uma motocicleta cujos condutores não utilizavam capacetes - o comandante da guarnição determina a imediata revista com o objetivo de combater o porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. Depois de ser revistado, João de Souza Silva, agricultor que seguia viagem de Senador para Carneiros, comenta a “satisfação” com o trabalho da Polícia Militar. “Quanto mais operação, melhor. Só assim os malandros somem da região”, disse. Nada de grave foi constatado a não ser a ausência de capacetes, o que é fato comum na região. “A gente não usa capacete não. Muitos não têm e outros reclamam do calor na cabeça”, argumentou um condutor. Questionado sobre o desrespeito à legislação, o capitão Roberto Valle justifica a flexibilidade na fiscalização pelo fato de a ausência do equipamento facilitar a identificação de quem chega ou sai de Carneiros ou Senador. “Há quadrilhas que atuam em motocicletas e o capacete dificulta a identificação dos criminosos. A ausência do equipamento facilita o trabalho da polícia no sentido de identificar se há ou não alguém estranho circulando pela cidade”, diz Roberto Valle. Ele afirma, no entanto, que a exceção serve apenas para as cidades pequenas e não se aplica ao município de Santana do Ipanema, por exemplo. “Em Santana, seguimos a lei com rigor”, ressalta outro oficial. Jogatina Outro crime comum na região - mas difícil de ser caracterizado como tal - é a aposta de valores em pequenos cassinos clandestinos. Em um dos quatro recintos visitados durante a operação, um grupo de dez amigos se divertia jogando baralho. Mesmo assim, tomaram um susto diante da presença policial. “Não há crime porque não há dinheiro em poder dos jogadores. Geralmente apostam para pagar em seguida num local reservado”, explica outro policial militar. MM ### Feiras livres estão entre os principais alvos de assaltantes Senador Rui Palmeira - O próximo alvo é a cidade de Senador Rui Palmeira, que tem duas das feiras livres mais movimentadas do Sertão. Numa delas, comercializam-se roupas e produtos em geral; na outra, o negócio forte é a compra e venda de animais. Segundo a PM, o município é alvo de ladrões geralmente às terças-feiras por uma razão bem simples: não se comercializa com cartão de crédito ou cheque. “Aqui tudo se resolve com dinheiro vivo, o que atrai a bandidagem”, diz um vendedor de animais. Depois da revista nos bares ao redor da feira livre de roupas e produtos variados, os policiais - divididos em três viaturas - chegam à feira de gado de Senador Rui Palmeira. Os grupos se dividem e cercam o curral onde se comercializa animais. Trajados com indumentária característica de região onde o progresso parece ter ficado no século passado, sertanejos dão pausa na comercialização de animais para observar amigos sendo revistados pelos militares. Num dos botecos ao redor do curral, a ação atinge comerciantes que se divertiam à mesa do bar. Canivetes e pequenas facas foram confiscados, mas devolvidos em seguida, depois de conversa entre os donos dos objetos e o responsável pela operação. “Nessa região é coisa rara o cidadão desarmado. É necessário bom senso para separar o instrumento de trabalho do que pode ser utilizado em algum tipo de crime”, comenta outro capitão envolvido na ação na feira livre de Senador Rui Palmeira. MM ### Maior ladrão de gado escapa de delegacia As polícias Civil e Militar de Piranhas também conseguiram resultado positivo no combate a um crime comum no Sertão: o roubo de gado em cidades próximas à divisa com Pernambuco e Sergipe. Para o delegado de Piranhas, Kelmann Vieira, o maior expoente desse tipo de crime é Devonete de Souza Lima, o “Devo”. Ele tem prisão preventiva decretada pela Justiça, mas continua foragido. Seu refúgio seriam os sertões de Alagoas e Bahia. Devonete já teria sido flagrado transportando gado roubado em estradas vicinais de Piranhas. Surpreendido pela ação de policiais militares, ele conseguiu fugir depois de se esconder na caatinga da região. Em agosto do ano passado, ele acabou sendo preso na cidade de Santa Brígida, sertão baiano. Na época, foi acusado de dois crimes: porte ilegal de arma de fogo e posse de placas para captação de energia solar que teriam sido surrupiadas de uma escola pública. Fuga Encaminhado à Delegacia Regional de Paulo Afonso (BA), Devonete conseguiu fugir no dia 20 de agosto. De acordo com o delegado de Piranhas, o acusado teria comandado a fuga, mas deixou para trás sua fotografia, o que até então era artigo raro no meio policial. Desde então, o acusado estaria praticando crimes nos sertões de Alagoas e da Bahia. “Ele estaria escondido no sertão de Alagoas”, diz o delegado Kelmann Vieira. |MM ### População ajuda a localizar traficantes Alheios à movimentação da polícia, dois agricultores se divertiam cantando toadas, ritmo característico de vaquejadas da região. Interrompido pela reportagem da Gazeta, um deles destacou a “utilidade e serventia” da presença policial na feira. “Isso é bom porque afasta os malandros que ficam de olho em nosso dinheiro e nos animais”, explicou. Depois de mais um gole de cachaça, a cantoria continuou, para deleite não apenas dos nativos, mas também dos policiais. Cumprida a operação, os militares retornaram ao quartel em Santana do Ipanema, onde chegaram meio-dia e meia. Era hora do “rancho” [almoço], que não atrasa e está sempre à mesa ao meio-dia. “O estômago não espera”, explicou a cozinheira do batalhão. Para não fugir à hierarquia militar, soldados fazem sua refeição separados do local onde oficiais e o comandante se alimentam. A Gazeta comprovou, no entanto, que não há distinção no cardápio. Ponto estratégico O 7º Batalhão da Polícia Militar fica num ponto estratégico do sertão alagoano. Está à margem da BR-316, que liga o Agreste ao Sertão, e a poucos quilômetros da divisa com Pernambuco, onde é intenso o tráfico de drogas. Embora tenha obtido êxito em operações de combate ao crime, o batalhão tem efetivo reduzido. São apenas 327 homens para cuidar da segurança em 14 municípios. A cada dia, apenas 49 estão de serviço. Há carência de mais 400 policiais. Segundo o subcomandante Roberto Villar, que trabalha há quatro anos na região, os militares contam com ajuda da população para garantir efetividade no combate ao crime. A reportagem da Gazeta constatou os inúmeros bilhetes com denúncias de onde estão e como atuam assaltantes e traficantes de drogas da região. “Quando a população colabora, nosso trabalho fica mais fácil. São maiores as chances de sucesso”, explica Villar. Ele cita o caso de uma testemunha que ficou indignada com o fabrico clandestino de armas de fogo na periferia da cidade. A Gazeta abordou o assunto em reportagem publicada dia 21 de janeiro. Para chegar aos quatro fabricantes de armas de fogo, a Polícia Militar contou com a coragem da testemunha, que vestiu capuz e roupa de policial para, num carro com vidros fumê, apontar onde estavam os acusados. “Ela contou tudo e nós obtivemos êxito”, explicou outro policial. TROTES Mas a mesma população que ajuda também atrapalha, com inúmeros trotes telefônicos. Nos 15 minutos em que ficou na recepção do quartel, a reportagem da Gazeta constatou pelo menos cinco telefonemas com informações equivocadas, com o objetivo de atrapalhar o trabalho da polícia. |MM

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