Sarney denuncia manobras sujas no processo eleitoral
Brasília Se o governo esperava um tom brando, surpreendeu-se. O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) conseguiu constranger politicamente o presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, que estra
Por | Edição do dia 21/03/2002 - Matéria atualizada em 21/03/2002 às 00h00
Brasília Se o governo esperava um tom brando, surpreendeu-se. O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) conseguiu constranger politicamente o presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, que estrategicamente ausentou-se do plenário do Senado na tarde de ontem. Em mais de uma hora de discurso, sem permitir apartes de nenhum colega senador, Sarney afirmou, com a devida diplomacia, que o governo federal permitiu que a disputa presidencial fosse contaminada por manobras sujas, que colocam em risco a democracia e os direitos individuais. Ele afirmou que se sente amargurado diante dos fatos e disse que pedirá a organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a Organização dos Estados Americanos (OEA), que as eleições no Brasil sejam monitoradas por observadores. Sarney afirmou não ter dúvidas de que foi montada uma operação cercada pelas devidas formalidades para afastar a sua filha, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, da disputa presidencial. Ele afirmou que a ação da Polícia Federal no escritório da empresa Lunus, de Roseana e do marido dela, Jorge Murad, foi arbitrária e ilegal, e comparou o atual governo com ditaduras, como a de Alberto Fujimori. Uma eleição não é fraudada somente nas urnas. O processo pode começar fraudado, frisou. O ex-presidente disse que o episódio o deixou perplexo e decepcionado com o presidente Fernando Henrique. Sarney lembrou que, há dois meses, teve uma conversa sincera com o presidente e o aconselhou a não deixar que seu governo fosse conspurcado no processo sucessório e que ele agisse com firmeza para assegurar que o jogo fluísse sem manobras sujas. De nada adiantou o conselho, disse Sarney. Impeachment Ao enumerar, sob o ponto de vista jurídico, provas de que a ação da PF foi ilegal, Sarney tocou numa antiga ferida de Fernando Henrique e lembrou que está parado na Câmara dos Deputados um pedido de abertura de processo de impeachment contra ele para investigar a denúncia de que o governo comprou os votos de parlamentares para aprovar a emenda da reeleição. Da aprovação da emenda dependia o segundo mandato de Fernando Henrique. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, ministro Arthur Virgílio (PSDB-AM), reagiu ao discurso do ex-presidente e senador José Sarney de que o Estado foi colocado a serviço de manobras para prejudicar a campanha à Presidência de sua filha. Arthur Virgílio, que passou o dia na liderança do governo no Congresso, de onde assistiu à fala de Sarney, classificou como injustas as declarações do ex-presidente. Foi um discurso polido, mas muito injusto com o presidente Fernando Henrique, comentou o ministro. Reconheço o desabafo de pai, mas não o Estadista, declarou Virgílio, que espera que o ex-presidente, depois de passar a fervura do momento, reavalie as suas afirmações.