FIM DE COLIGAÇÕES PIORA CENÁRIO PARA OXIGENAÇÃO
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Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 14/03/2020 - Matéria atualizada em 14/03/2020 às 06h00
Se o cenário já estava complicado para o surgimento de novos nomes, ou pelo menos para uma renovação mais expressiva, o fim das coligações com a provação da Emenda Constitucional 97/2017 e que vale para esta eleição gerou um complicador a mais. “Os grandes beneficiados são os maiores partidos. Eles têm mais fundo eleitoral, mais fundo partidário para usar em campanha. Além disso, têm os candidatos com a maior densidade eleitoral. A Câmara aumentou o número de vagas, mas vai beneficiar quem tem mais recursos”, enfatizou Marcelo Bastos. Conforme ele analisa, isso já teria ocorrido no pleito de 2016, caso a nova regra já estivesse valendo. Naquele pleito, dos 31 partidos que disputaram cadeiras, apenas sete deles teriam êxito e garantiriam representatividade: PSDB, MDB, PP, PR, PSD, PPL e PV. Isso se explica por conta da regra do quociente eleitoral, que é a razão entre os votos válidos (nominais + votos de legenda) pelo número de vagas. Na eleição de 2016 foi de aproximadamente 20 mil votos. “Se na eleição de 2020 os votos válidos forem próximos aos números apresentados na eleição de 2016 [415.687 votos], o quociente eleitoral ficará em torno de 17 mil votos em virtude do aumento do número de vagas para 25, ou seja, para um partido eleger um candidato terá que obter no mínimo 17 mil votos, lembrando-se que a partir da eleição de 2018, as sobras do quociente partidário foram distribuídas a partidos com maior média de votos por candidato. Antes, as sobras só eram redistribuídas entre partidos ou coligações com quociente eleitoral mínimo”, aponta o analista. Por isso, Bastos não exita em dizer que a principal “tendência natural” pós eleição é o fim das pequenas legendas. O mais provável é que não atinjam o quociente eleitoral mínimo, o que em outras palavras significa que só terão possibilidades a partir das sobras.
VANTAGEM
Com dinheiro, visibilidade e redutos, os vereadores de mandato, além dos novatos de origem tradicional acabam saindo com alguns metros à frente de quem ainda vai montar suas estratégias. Isso também é um outro diferencial, porque as candidaturas mais estruturadas, em geral, mesmo sendo proporcional também contam com consultoria de marqueteiros profissionais. Até mesmo os vídeos ou intervenções em redes sociais não ocorrem apenas com base na espontaneidade. As chamadas “viralizações” nem sempre são obra do acaso, porque existem mecanismos de impulsionamento para driblar a orientação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). As redes sociais ao mesmo tempo ajudam a dar identidade aos candidatos, mas o engajamento por meio de quem os segue e compartilham as postagens é que vai determinar o alcance. Além disso, existe a necessidade de ponderar o que é quantitativo e qualitativo. Ou seja, do que pode ser revertido definitivamente em votos. Em geral, os grupos de aplicativo de mensagem são propagadores naturais quando já são usados antes mesmo do período eleitoral. Mas há ainda os que são criados em função do próprio pleito.
Uma outra demanda que nunca deixa de existir e acaba sendo uma “arma” importante dos políticos tradicionais ou de famílias que não abrem mão das disputas é a relação com lideranças comunitárias. Muitas vezes a ligação surge desde o apoio para as eleições de conselheiros tutelares ou simplesmente das associações de bairro. Esses “compromissos” surgidos há muito tempo ainda pesam também no processo de escolha.