Desde a sanção da lei nº 12.305, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), no ano de 2010, existem dispositivos legais que proíbem o descarte de resíduos sólidos nos chamados lixões. O prazo para o fim dessa prática vem sendo prorrogado incessantemente desde então, mas alguns lugares do país já fizeram a transição para uma prática mais ecológica. Nos lixões, os resíduos sólidos são lançados em grandes buracos, quase sempre sem impermeabilização, e depois são tampados com areia. O chorume polui os reservatórios subterrâneos de água e o metano que emana do solo polui o ar e, em últimos casos, pode até mesmo gerar explosões e doenças em quem reside nas proximidades. Em Alagoas, existem dois Centros de Tratamento de Resíduos (CTRs), administrados pela Alagoas Ambiental, empresa privada que iniciou suas atividades no estado pouco depois da criação da PNRS. Um fica no município de Pilar e outro no município de Craíbas. Nos CTRs, o lixo é depositado no solo de maneira controlada, com sistemas para impedir incidentes ambientais graves. No CTR de Pilar, são recebidas em média 800 toneladas de lixo por dia, de 42 municípios do Estado de Alagoas e de clientes privados, em sua maioria industriais, que enviam seus resíduos para o Centro. Lá, o lixo é separado e aterrado em um lugar adequado, onde equipamentos modernos trabalham para amenizar a contaminação do solo ou do ar. De acordo com o que preconiza a PNRS, o lixo que é reciclável pode ser encaminhado para reciclagem em outras instalações. Em sua área de cerca de 104 hectares circulam livremente diversas aves, como pavões, galinhas e guinés, e há dois piscinões com peixes. Além dos animais, também é mantida uma horta, cuja colheita é compartilhada entre os funcionários. Um miniauditório no local recebe crianças da rede pública e privada de ensino do estado, onde aulas de educação ambiental são ministradas. “Os bichos também passam um recado, que independente de aqui haver descarte de lixo, é possível haver natureza”, explica Marnes Gomes, engenheiro civil e gerente das duas unidades da Alagoas Ambiental. “Se houver algo de errado no ambiente, também, eles são os primeiros a sentirem e darem sinais”. Algumas aves são exóticas: há espécimes de galinha sedosa, que possui uma penugem semelhante a pelos de um cachorro, e galinhas espanholas, que Marnes chama de “cara de palhaço”, devido a coloração branca da cabeça do bicho. Todas ficam soltas pelo local, mas optam por seguir as pessoas, na espera de comida. Um dos criadouros de peixe fica próximo ao miniauditório, com um pier de metal suspenso em um de seus cantos. A depressão circular impermeabilizada tem tilápias e tambaquis, em um volume que, em uma coleta na Semana Santa do ano passado, na qual os peixes foram distribuídos entre os funcionários, rendeu 3 toneladas de pescado. Uma das novidades do CTR é um maquinário que faz o tratamento do chorume que se acumula no fundo das depressões onde o lixo é depositado. No lugar de vazar para o lençol freático, o líquido é bombeado e tratado. A água resultante é próxima à água destilada, e é usada para encher outro criadouro de peixes próximo. As montanhas onde os resíduos são depositadas possuem diversas “chaminés”. Esse equipamento retira o gás metano dos aterros, prevenindo um incidente, e bombeiam o chorume ao fundo para a estação de tratamento. Marnes revelou que a Alagoas Ambiental firmou um contrato com uma empresa italiana para a compra de geradores, que transformarão o metano em energia, que será lançada na rede elétrica. O maquinário que faz o tratamento da água é de tecnologia alemã, e custa em média 850 mil euros, algo próximo da cifra dos 5 bilhões de reais. Repleto de sensores que monitoram volume, pressão e temperatura das diversas partes do processo, o equipamento também possui um sistema de automação que controla, por exemplo, quando os reservatórios de metano e água devem começar a encher e parar.
Na visita da Gazeta de Alagoas ao CTR, uma luz vermelha se acendeu no painel, indicando que a porta que dá acesso ao computador central estava aberta. “Se uma bomba estivesse com problema, esse mesmo aviso iria ser acionado”, explica o engenheiro. No software do computador, é possível se definir os níveis máximos e mínimos da máquina, consultar o histórico de tratamento e as últimas sessões. O chorume das pilhas é transferido para um reservatório, de onde é levado para o maquinário e passa por um processo de osmose reversa: a água se separa dos resíduos do lixo. Processos de filtragem acontecem depois, e a água é levada para o reservatório onde se criam peixes. Após atingir o volume máximo, o nível é reduzido e a água é usada para regar as plantas da horta, limpar o maquinário e outros propósitos internos.