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Nº 5897
Política Durou pouco tempo o armistício entre Bolsonaro e Mandetta após intervenção militar

MANDETTA PERDE APOIO DE MILITARES APÓS PROVOCAR BOLSONARO

Tom adotado pelo ministro em entrevista à TV Globo foi avaliado pela cúpula fardada como provocação desnecessária ao presidente

Por GUSTAVO URIBE, DANIEL CARVALHO e TALITA FERNANDES - FOLHAPRESS | Edição do dia 14/04/2020 - Matéria atualizada em 14/04/2020 às 06h00

Brasília, DF - O apoio que o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) tinha no núcleo militar do Palácio do Planalto para continuar no cargo perdeu força na noite de domingo (13).

O tom adotado pelo auxiliar presidencial em entrevista à TV Globo foi avaliado pela cúpula fardada como uma provocação desnecessária ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que atrapalha o esforço de se evitar uma troca no comando do Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus. Na entrevista, Mandetta disse que o brasileiro não sabe se escuta ele ou o presidente sobre como se comportar durante a crise de saúde e alertou que os meses de maio e junho serão os mais duros. Mandetta também criticou aglomerações em padarias. Na quinta-feira (9), novamente ignorando as recomendações de isolamento social, Bolsonaro entrou em uma padaria de Brasília, onde posou para fotos e cumprimentou apoiadores. Para militares do governo, Mandetta fez um confronto público com Bolsonaro, não obedecendo à hierarquia do cargo, e reacendeu um conflito que havia diminuído de temperatura no final da última semana. Na segunda-feira passada, o presidente, que já avaliava demitir o ministro após o pico da pandemia, considerou antecipar a decisão. Ele foi, no entanto, convencido pelo núcleo militar a aguardar até junho, para não piorar a crise de saúde. A avaliação agora no Planalto é a de que Mandetta desprezou o esforço da cúpula fardada e está preocupado neste momento apenas com a sua imagem pública, em uma eventual tentativa de se candidatar a governador de Mato Grosso do Sul em 2022. Apesar do incômodo com a postura do ministro, Bolsonaro indicou na noite de domingo (12) que não pretende afastar Mandetta do cargo neste momento. O presidente não quer correr o risco de ser responsabilizado sozinho caso o sistema de saúde entre em colapso. Segundo assessores palacianos, no final da tarde de domingo (12) o presidente foi informado que Mandetta havia concedido uma entrevista à Rede Globo naquela tarde. Segundo relatos feitos à reportagem, ele assistiu ao conteúdo no Palácio da Alvorada e, para a surpresa de aliados, minimizou as declarações, avaliando que não foram graves. Ontem, questionado por jornalistas sobre a entrevista, o presidente disse que não assiste à TV Globo e não quis comentar as declarações do auxiliar presidencial. A relação entre Bolsonaro e Mandetta nunca foi próxima, sempre foi protocolar. O ministro foi indicado ao cargo pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), aliado de primeira hora do presidente, mas hoje rompido. Pela falta de afinidade de ambos, Bolsonaro chegou a cogitar a sua substituição em setembro, mas desistiu ao constatar que ele tinha amplo apoio junto ao setor da saúde. No início da pandemia do coronavírus, o presidente se queixou ao ministro de que ele deveria defender mais o governo e o repreendeu por ter participado de uma entrevista ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro. Mandetta modulou sua retórica e passou a pregar a importância de a atividade econômica não parar. Ele, no entanto, não se dobrou à pressão do presidente contra a medida de isolamento social, o que iniciou o embate entre ambos. A crise com Mandetta abalou Bolsonaro. Segundo assessores presidenciais, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, o presidente receou estar perdendo capital político ao constatar que parte da base bolsonarista nas redes sociais apoia o ministro. De acordo com um aliado do presidente, preocupada com o marido, a primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou a recomendar ao presidente que diminuísse o ritmo da agenda política para evitar um quadro de estresse.

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