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Nº 5897
Política

MANDETTA CAI, TEICH ASSUME A SAÚDE E BOLSONARO ATACA MAIA

Novo ministro é alinhado ideologicamente ao bolsonarismo, diferente do antecessor, que entrou em atrito com o presidente

Por DANIEL CARVALHO e RICARDO DELLA COLETTA - FOLHAPRESS | Edição do dia 17/04/2020 - Matéria atualizada em 17/04/2020 às 08h09

Brasília, DF - O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, disse na tarde de ontem que está alinhado ao presidente Jair Bolsonaro e que não haverá nenhuma definição brusca sobre isolamento social em meio à pandemia do novo coronavírus, que já matou 1.924 pessoas no Brasil. “Não vai haver qualquer definição brusca ou radical do que vai acontecer”, disse o substituto de Luiz Henrique Mandetta, demitido pouco antes de Teich ser anunciado. Em pronunciamento feito ao lado de Bolsonaro, o novo titular da Saúde afirmou que é preciso haver informação para a tomada de qualquer decisão. “O que é fundamental é que a gente consiga enxergar aquela informação que a gente tem até ontem, decidir qual a melhor ação, entender o momento e seguir neste caminho de definir qual a melhor forma de isolamento, distanciamento.” “O que é fundamental é que isso seja cada vez mais, a gente vai falar isso o tempo todo, que isso cada vez mais seja baseado em informação sólida. Quanto menos informação você tem, mais aquilo é discutido na emoção. Isso não leva a nada porque isso é absolutamente ineficiente.” “Tudo aqui vai ser tratado absolutamente de uma forma técnica e científica”, declarou Teich, que afirmou estar em consonância com o presidente. “Existe um alinhamento completo aqui entre mim e o presidente e todo o grupo do ministério. O que a gente está fazendo aqui hoje é trabalhar para que a sociedade retorne, de forma cada vez mais rápida, a uma vida normal.” E, já na mesma toada de Bolsonaro, Teich falou de saúde e economia. “Essas coisas não competem entre si. Elas são completamente complementares. Quando você polariza uma coisa dessas, você começa a tratar como se fosse pessoas versus dinheiro, o bem versus o mal, empregos versus pessoas doentes. E não é nada disso.” Em seu pronunciamento, Teich defendeu pesquisa para que se disponibilize remédios ou vacinas para a Covid-19. “Você vai disponibilizar o que existe hoje em termos de vacina ou em termos de medicamento dentro, essencialmente, o ideal, dentro de coisas que funcionem como projeto de pesquisa”, disse. “Porque isso vai permitir que você colha o maior número possível de informações no espaço mais curto de tempo. Isso vai te ajudar a entender o que faz diferença ou não para as pessoas, para os pacientes e para a sociedade”, afirmou Teich, que defendeu também um programa de testes para entender a doença. “Quanto mais a gente entender da doença, maior vai ser a nossa capacidade de administrar o momento, planejar o futuro e sair desta política do isolamento e do distanciamento. Para conhecer a doença, a gente vai ter que fazer um programa de testes. É fundamental que a gente tenha uma avaliação do que que é esta doença hoje”, disse Teich. Logo após ser apresentado como ministro, Nelson Teich concedeu entrevistas para SBT, Band e Record. Ao SBT, ele disse ainda não ter definição sobre sua equipe no ministério e defendeu pesquisa para o uso de medicamentos, inclusive a cloroquina, defendida por Bolsonaro. “A cloroquina faz parte daqueles medicamentos que podem ser eficazes contra a Covid-19. O que acontece? Quando você vive situações mais extremas da doença em que a mortalidade é alta, você pode fazer uso de medicamentos. Mas qual é o ideal? É que este uso seja sempre feito de uma forma estruturada, dentro de um planejamento, dentro de um programa de pesquisa”, afirmou. “O que a gente vai fazer é: colhe dado, acelera isso o mais rápido possível, interage com os pesquisadores, tenta ter isso o mais rápido possível para que a gente possa enxergar claramente qual o papel de cada medicamento, de cada vacina, no controle da doença.” Na entrevista à Band, o ministro disse que não é possível afirmar se o Brasil já chegou ao pico da pandemia. “Isso, quem te disser que sabe, está mentindo. Porque não tem como hoje você adivinhar quando é que vai bater o pico da doença. É muito angustiante você navegar em tanta incerteza, onde você tem que assumir que realmente você tem que acompanhar para ver o que acontece.” Na entrevista, ele voltou a defender o alinhamento com Bolsonaro. “O alinhamento é fundamental para que as pessoas trabalhem juntas, de forma eficiente. Não só entre o Ministério da Saúde [e a Presidência], entre todos os ministérios e outros grupos e pessoas que existam hoje no governo”, afirmou Teich. A maratona de declarações públicas e de entrevistas do novo ministro incluiu também sua participação na live semanal do presidente Bolsonaro. Teich foi perguntado por Bolsonaro sobre a cloroquina. O oncologista respondeu acreditar que estudos sobre medicinas para o coronavírus estarão disponíveis “num tempo relativamente curto”. “A nossa função é fazer que essa solução seja cada vez mais rápida, com base nos dados mais precisos e confiáveis nos estudos maiores. Estamos com vários estudos aqui e acredito que isso vai vir num espaço relativamente curto”, declarou. Na live transmitida nas redes sociais, o novo ministro voltou a defender que saúde e economia sejam tratadas de forma conjunta. “Um país que cresce economicamente arrasta com ele o crescimento da educação, da saúde, e da possibilidade de investir em algo como infraestrutura e saneamento. Essa separação [entre saúde e economia] é irreal, porque tudo vai influenciar no tempo de vida, na qualidade e no bem-estar da sociedade”, afirmou. Ele disse ainda que a diminuição da atividade econômica reflete também em menos recursos para serviços médicos. Por último, Teich argumentou que é preciso colher mais dados sobre a incidência e a prevalência da enfermidade no Brasil para traçar com maior facilidade políticas e ações. “Nesse momento provavelmente -eu posso estar completamente errado- a gente vai ter uma situação em que dificilmente vamos chegar naquele número que teoricamente daria uma imunidade para uma sociedade; e a gente vai ter que discutir, sim, como vai ser a vida das pessoas”, concluiu. A relação entre Bolsonaro e Mandetta estava desgastada havia cerca de um mês por divergências na condução do combate à pandemia do coronavírus. A situação piorou após entrevista do ministro à TV Globo no último domingo (12). A saída de Mandetta é esperada desde a semana passada. Ainda na manhã desta quinta, o agora ex-ministro disse teria mudança em breve. “Devemos ter uma situação de troca no ministério que deve se concretizar hoje ou amanhã”, disse o agora ex-ministro. Além da visível perda de sustentação entre os militares, que consideraram o tom da entrevista um ato de insubordinação, Bolsonaro levou em conta que até mesmo alguns líderes do Congresso criticaram o tom do ministro.

CRÍTICAS A MAIA

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), pela “péssima atuação” nas propostas econômicas para enfrentar a crise do coronavírus no Brasil. Segundo ele, Maia está conduzindo o país ao “caos” e está “enfiando a faca no governo federal”. “Eu lamento a posição do Rodrigo Maia, que resolveu assumir o papel do Executivo. Eu respeito ele, mas ele tem que me respeitar. Lamento a postura que ele vem tomando. Mas o sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas. Ele quer atacar o governo federal, enfiando a faca no governo”.

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