O novo procurador-geral do Ministério Público Estadual (MPE), Márcio Roberto Tenório de Albuquerque, tomou posse ontem no cargo negando vínculo com o governador Renan Filho (MDB) e reforçando que vai atuar com independência. Márcio Tenório foi o segundo nome mais votado na lista tríplice encaminhada ao Executivo pelo Ministério Público após a eleição para escolha do novo procurador-geral. Ao preterir o primeiro nome da lista, do promotor Marcus Rômulo, a decisão de Renan Filho gerou mal estar, o que levou Márcio Tenório a reforçar um discurso de independência. “De forma nenhuma me sinto vinculado ao governo do Estado ou ao governador Renan Filho, a quem tenho muito respeito e, claro, agradecer pela minha escolha. Eu só tenho vínculo com o Ministério Público e em prestar grandes serviços à sociedade alagoana. Obviamente, nós teremos que ter uma parceria, mas no bom sentido para fazer o melhor pelo povo de Alagoas, respeitando, claro, a independência do Ministério Público e a minha própria independência”, disse ele à Gazeta. “Eu tenho relações institucionais com todos os integrantes dos demais Poderes. Nesses meus 33 anos de Ministério Público tenho tido contatos com todos eles, alguns tenho amizade pessoal, mas isso de forma nenhuma faz com que eu me sinta tolhido na minha responsabilidade de cumprir meu papel social, que é exatamente defender o povo de Alagoas”, completa. O governo Renan Filho acumula uma série de irregularidades envolvendo o mau uso de recursos públicos. Na comunicação, só no primeiro semestre do ano passado, o governo do Estado gastou quase R$ 20 milhões em publicidade, o que chamou a atenção de partidos como o PSL, que entrou com uma representação no MPE cobrando investigação sobre os gastos. Só com a Polícia Federal já foram nove operações, principalmente na pasta da Saúde. Márcio Roberto tomou posse no cargo na manhã de ontem, em solenidade especial realizada na sede do MPE, no Poço. A cerimônia contou com a presença física de procuradores do Colégio de Procuradores de Justiça e, em videoconferência, com o presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), desembargador Tutmés Airan, e representantes da Corregedoria local e nacional do órgão, entre outras autoridades. A posse de Márcio Roberto ocorreu pouco mais de um mês depois da saída de Alfredo Gaspar de Mendonça Neto. Ele era sub-procurador administrativo na gestão de Alfredo e forte candidato ao cargo. Na cerimônia de ontem, o procurador-geral do MPE, Márcio Roberto, destacou sua carreira pública, que começou na Polícia Militar, dizendo que “nada veio de graça, contudo, não carrego em meu coração rancor, inveja, recalque. Cultuo a humildade, simplicidade, gratidão e o amor ao próximo”. Tenório pediu desculpas pela falta de modéstia e defendeu estar preparado, até pelos seus 33 anos de serviço público, uma vez que muitos desses anos foram, em suas palavras, “de muito estudo e dedicação exclusiva”. O novo procurador frisou também o que deve ser uma das marcas de sua gestão. “Quem errar, vai ter que responder pelo seu erro, na medida de sua culpa, e nós do Ministério Público temos que ter o maior cuidado para nunca expor nem os criminosos de forma exagerada e muito menos os seus familiares”. Ele também agradeceu aos colegas do órgão estadual e lembrou dos pais. “Aos meus falecidos pais, Moisés Albuquerque e Luizinha, um caminhoneiro e uma doméstica, mulher do lar, aos meus irmãos. Ao doutor Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, ex-procurador-geral de Justiça, pela plena e irrestrita confiança em mim depositada e pelo apoio nessa minha caminhada. Ao governador Renan Filho, a quem peço a Deus pela sua saúde e que apostou no meu projeto de gestão do Ministério Público de Alagoas como o melhor, mais proativo e mais resolutivo, efetivando a minha nomeação do honroso cargo de procurador-geral de Justiça. Aos meus colegas e amigos procuradores e promotores de Justiça, que me deram voto de confiança para que eu pudesse estar aqui neste momento festivo, e aos meus colegas servidores, comissionados, colaboradores e efetivos do Ministério Público”, afirmou. Já encaminhando-se para a parte final do seu discurso, Márcio Roberto prometeu não fazer nenhuma exoneração, a não ser que “seja realmente a pedido, porque não quero e meu coração não permite que eu tire o emprego ou o pão de cada dia de um pai de família”. Ainda separou um trecho do discurso para agradecer à sua esposa, “responsável principal por eu não ter desviado do caminho”, e ao filho, Márcio Roberto Tenório Júnior, promotor de Justiça de Atalaia, município de origem dele.