O clima de aparente paz no ninho tucano foi pelos ares na noite da última quarta-feira, quando o presidente do diretório estadual, senador Rodrigo Cunha (PSDB), comunicou por e-mail a dissolução do diretório municipal, presidido pela deputada federal Thereza Nelma (PSDB). O motivo: sua insistência em indicar um vice do partido para formar a chapa com João Henrique Caldas (PSB). Quem seria escolhida na convenção da legenda era sua assessora, Adriana Toledo (PSDB). Um dia antes, inclusive, a própria Nelma havia enaltecido suas qualidades para a missão. Mas, 24 horas depois da rasteira, em nota, ela classificou a postura de Cunha como machista e autoritária. “A decisão isolada do senador Rodrigo Cunha transpira autoritarismo, viola a diretriz central do Estatuto do PSDB, que estabelece claramente o compromisso com a transparência, a democracia interna e o direito de defesa, ao contrário do documento do senador, que prefere a ‘disciplina’ e a ‘hierarquia’. Assim, e para elevar o nível do necessário debate, informamos a todos os filiados sobre a verdade dos fatos, até a decisão parecer em desconformidade com a democracia partidária e com a luta pela maior participação das mulheres”, diz um trecho da nota. Na prática, Rodrigo Cunha - que foi eleito com o discurso de ser “o novo na política” - acabou agindo como os “velhos coronéis” da política alagoana, que sempre se orgulharam de ser donos de siglas partidárias. A prova disso é que no registro encaminhado ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL), o novo incluiu pessoas do seu grupo político: Fábio Rodrigues (secretário geral), Sérgio Túlio de Albuquerque (tesoureiro), Fábia Luciana Peixoto (membro), Karolina Gama (membro), Paula Leite (membro) e seu chefe de gabinete, Hermann Braga de Lyra Neto. A manobra, que tem base jurídica, conforme argumentou Cunha, por outro lado marca sua necessidade de deixar JHC, filho de sua suplente Eudócia Caldas, livre para compor a chapa como melhor lhe convier. Como desde julho o resultado da convenção que elegeu Nelma como presidente do PSDB sequer havia sido oficializada ao TRE/AL, supõe-se que a intenção de tirá-la do comando já vinha sendo gestada a mais tempo. Se radicalizasse, dançava. Ou seja, ela comandava o diretório de fato, mas não de direito. Nas redes sociais e aplicativos de mensagem, militantes do PSDB espalharam um banner com a expressão “Reaja Thereza”. Já a deputada informou que irá convocar a Executiva Municipal “com urgência para avaliar as crises criadas por decisões isoladas e individualistas” do senador Rodrigo Cunha.
NEGOCIAÇÃO
No momento, não interessa para o PSB, nem para JHC, ter um vice tucano. Isto porque graças a uma articulação nacional, o PDT está sendo trazido para a aliança. E como a proposta é para que abram mão de suas candidaturas, parte da negociação envolve o cargo de vice. A trama para o PSDB não ser protagonista na eleição e atrapalhar os planos de JHC chegar a prefeitura são antigos. Desde a eleição de 2018 a Gazeta já antecipava, assim como toda a crônica política do estado, que já existia uma aliança entre Cunha e Caldas. Como parte da estratégia, primeiro Cunha eliminou as intenções do prefeito Rui Palmeira (sem partido) de indicar um nome do partido para substituí-lo na Prefeitura de Maceió. Nem o fato de estar sendo bem avaliado no fim de seu segundo mandato lhe garantiu essa consideração. Sem espaço no partido e apoio do diretório nacional não restou outra saída para o chefe do Executivo Municipal se não romper com a legenda. Em nota, o PSDB em Alagoas alega que Tereza Nelma se antecipou aos fatos ao externar sua indicação para compor chapa na eleição na capital. Confira a nota abaixo na íntegra. “O PSDB em Alagoas está em construção, buscando novas lideranças e fortalecendo a forma orgânica de fazer política. O partido não é cartório, e todos os atos devem ser analisados de acordo com a legislação e com o estatuto. Nesse sentido, a convenção realizada para formar o diretório de Maceió não cumpriu com os elementos necessários e o setor jurídico do partido emitiu parecer contrário ao seu registro. Ainda estamos na fase de ajustes para formação de coligações majoritárias que envolvem outros partidos e outros candidatos e a deputada Tereza Nelma se antecipou aos fatos ao externar sua indicação para compor uma chapa na capital sem um alinhamento com os membros do partido, mesmo sem ter o registro do diretório partidário analisado”, afirma a nota do partido enviada à reportagem da Gazeta.