Com a pior seca desde 2015 nos reservatórios hidrelétricos do Sudeste e Centro-Oeste, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou o Operador Nacional do Sistema Elétrico a cobrar mais caro na conta de luz dos brasileiros. A conta de luz terá bandeira vermelha 2, que adiciona R$ 6,24 a cada 100 quilowatt/hora e já está valendo. Esse seria o melhor momento para estados apostarem em fontes de produção de energia alternativa e mais barata. No Nordeste, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e o vizinho Sergipe avançam na fonte eólica, para reduzir o impacto no bolso do consumidor. Alagoas nem pode pensar na energia gerada pelo vento, porque parou no tempo e há cinco anos abandonou os projetos que eram desenvolvidos nas secretarias de Estado de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Turismo. As pesquisas desenvolvidas pelos engenheiros da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Eletrobras, que geraram o Atlas Eólico do Estado, completaram 13 anos e precisam de atualização. O editorial da Gazeta, do dia 8 de maio passado, já mostrava o desprezo do Estado com essa fonte de energia limpa ao afirmar que, “quando o assunto é energia eólica, Alagoas segue na orfandade, sendo o único estado desprovido de parque instalado, apesar de possuir áreas propícias para a geração de energia nessa modalidade, como apontam os estudos”.
CIENTISTAS
Isso fica evidente quando se consultam os principais cientistas que pesquisam a geração de energia elétrica de fontes alternativas as produzidas pelas hidrelétricas. A maioria dos pesquisadores afirma que Alagoas ainda engatinha no desenvolvimento de fontes alternativas, apesar de haver significativo avanço nas áreas de energia produzida a partir de biomassa e solar. As pesquisas desenvolvidas pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia para aproveitamento da força dos ventos que sopram nos 48 mil quilômetros quadrados do território alagoano pararam em 2015, segundo revelou o professor Davi Brito, da Ufal, por meio da assessoria de Comunicação da Secretaria. O governo perdeu interesse nas pesquisas e passou a apostar nos investimentos privados de implantação de empresas que produzem placas de energia solar fotovoltaica, seguindo uma suposta lógica de mercado. Um dos pesquisadores que acreditam na força dos ventos como fonte de energia e de economia suplementar é o professor-doutor Márcio André Araújo Cavalcante, ex-coordenador do curso de Engenharia de Geração de Energia da Ufal, atual coordenador do curso de Engenharia Civil e representante da Ufal no Comité de Políticas Energética do Estado. Como professor do Centro de Tecnologia da universidade, desenvolve pesquisa e análise do potencial eólico, como também na tecnologia de conversão de energia. “Alagoas tem potencial para geração de energia eólica complementar”, garante o pesquisador.
FATOR DE CAPACIDADE
Existe um parâmetro no setor chamado “fator de capacidade”. Isso quer dizer que, se o vento soprasse numa velocidade constante, geraria um processo constante de produção de energia como as hidrelétricas produzem. Entretanto, isso não acontece. Porque o vento, em determinado momento, tem uma velocidade e noutro a velocidade é diferente. Dessa forma, o parque eólico não produz toda a capacidade que tem, por causa da variação da velocidade do vento. A energia produzida e a energia que “seria” produzida se o gerador estivesse em pleno vapor gera a relação de “fator de capacidade”.
Segundo o professor Márcio, em algumas regiões do Brasil o fator de capacidade é superior à dos parques eólicos da Europa, Estados Unidos e de outros continentes. O Brasil tem uma capacidade acima de 50%. Em Alagoas, esse fator gira em torno de 27 a 30%. Porém, em países da Europa e regiões dos Estados Unidos, já é considerado como fator atrativo algo em torno de 30%. O professor Márcio André explicou que o que define investimentos é este FC. “Em localidades do Nordeste como a Bahia, Ceará, Rio Grande do Nordeste e Pernambuco, o fator de capacidade é superior aos 27%”. As melhores localidades para instalação de parques eólicos em nosso estado seriam na região de Piaçabuçu, na foz do Rio São Francisco, e no Sertão. “Depois que forem saturados os investimentos nos estados com fatores de capacidade maiores, naturalmente haverá investimentos em regiões como Alagoas”, acredita o pesquisador.
ATLAS
O Estado tem um projeto do qual o professor Márcio André Araújo Cavalcante também faz parte junto com colegas pesquisadores do Instituto de Pesquisa Atmosférica, além de outros do centro de tecnologia e engenharia, que tem o objetivo de atualizar do Atlas Eólico. Esse equipamento científico é para avaliar o potencial dos ventos. O Atlas do Estado está superado há 13 anos. O último foi feito com torres de no máximo 50 metros. Hoje, os aerogeradores de energia podem ultrapassar 150 metros de altura, como os do Ceará, Rio Grande do Norte e da Bahia. A tecnologia utilizada em Alagoas já foi superada porque os aerogeradores gigantes permitem a geração de energia com menor impacto ambiental e equipamentos mais modernos. As pás (hélices) gigantes facilitam que as aves migratórias desviem, evitam a matança de pássaros, reduz ruídos que causam transtornos urbanos, aos animais e outros transtornos ambientais.