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Nº 5897
Política

NOS 190 ANOS DA PM, COMANDO FUNCIONA EM INSTALAÇÕES IMPROVISADAS

Oficiais expõem situação de desprestígio, desprezo e vexames contra a instituição durante o governo Renan Filho

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 05/02/2022 - Matéria atualizada em 05/02/2022 às 04h00

Nunca se viu nada parecido antes. Desde o primeiro governador, José Inácio Borges, que comandou o Executivo estadual de 16 de setembro de 1917 a 22 de janeiro de 1819, no período pré-colonial, passando pelos 131 políticos que governaram Alagoas, Renan Filho, entra para história como o primeiro que desalojou por sete anos, dos dois mandatos, mais de 8 mil policiais militares do quartel-general. No dia três de fevereiro, a instituição completou 190 anos e o comando na data simbólica alojado de forma improvisada na Academia de Polícia. Apesar dos inúmeros problemas de infraestrutura, administrativos e organizacionais, alguns militares estão sendo obrigados a elogiar a instituição, gravar vídeos enaltecendo a força tarefa que está sendo esvaziada por conta da defasagem nas gratificações, de R$ 20, e apoiar atividades aleatórias como o “Ronda nos Bairros”. A insatisfação é tanta que alguns oficiais entregaram postos de comando estratégico. O ex-diretor da Escola de Ensino da Escola de formação da PM e atual ajudante do comando-geral, coronel Valter do Vale de Melo Júnior, foi um dos que entregaram o comando do Policiamento da Capital por não concordar com o tratamento dispensado pelo governador aos oficiais e ao próprio comandante, coronel Wellington Bittencourt. Depois disso, o coronel passou a ser alvo de perseguição. A situação do oficial piorou depois de fazer críticas públicas à gestão do governo estadual e cobrar política de Estado na Segurança Pública. As críticas que acusam o governo de supostamente desprestigiar a instituição se multiplicam entre outros coronéis, oficiais de patentes inferiores, soldados, inativos e pensionistas. Tanto que, na terça-feira prometem participar, às 15h, de uma assembleia no Clube dos Oficiais, no bairro do Trapiche da Barra, em Maceió, onde pretendem criar uma pauta de mobilização para cobrar direitos e promessas do governador que foram tratadas com desprezo pelo secretariado e pelo próprio Renan, afirmam os oficiais em lives.

PERSEGUIÇÃO

Aqueles militares que reclamam direitos constitucionais e fazem críticas são transferidos para funções irrelevantes e figurativas. Outros preferem deixar os postos. Um deles é o próprio coronel “Do Vale”, que entregou o posto de comandante do Policiamento da Capital (CPC) e passou a ocupar um cargo figurativo de ajudante do comando-geral.“Sabemos que o nosso comandante-geral e o comando-geral do Corpo de Bombeiros [André Alessandro Madeiro de Oliveira] e o próprio secretário de Segurança fazem o que podem. Eles ocupam cargos políticos e podem ser substituídos e acompanhar este clima de insatisfação que está na maioria. Mas até o comandante e o próprio secretário de Segurança são desprestigiados e alguns momentos sequer são recebidos pelo governador”, afirmou o militar. Antes da crise, o coronel Do Vale se reuniu com o governador, o convidou a discutir estratégias com os colegas coronéis e sugeriu dar prosseguimentos aos projetos e pleitos antigos dos militares. Como costuma fazer, Renan Filho prometeu a Do Vale que reveria sua postura política e ainda pediu ao então comandante do CPC para ajudar o secretário Alfredo Gaspar na SSP. Ao revelar detalhes interessantes dos bastidores da gestão estadual, Do Vale revela um modelo estranho de gestão do Executivo estadual. “A gente percebe que, dentro do governo, tem outro governo paralelo, que é o da Secretaria de Planejamento. A Seplag, por exemplo, queria gerir inclusive a folha de pagamento das instituições policiais, taxar o próprio Estado como se fosse uma empresa. Como reclamos disso, os nossos antigos projetos como o Sistema de Proteção Social [o da Previdência Militar] e os novos pararam nas gavetas. Situação que prejudica a tropa, os pensionistas, viúvas, enfim todos”. Ao lembrar o primeiro ano de governo, destacou que Renan Filho fez um projeto de segurança pública com o promotor Alfredo Gaspar de Mendonça. “O então secretário nos convenceu e caímos nas promessas. Trabalhamos forte, geramos bons indicadores de redução da violência. Porém, eu observei que o governador fez uma política de combate aos homicídios, mas esqueceu os outros crimes que afetam a população, como o Crime de Violência contra a Mulher, os de Perturbação da Ordem Pública, a onda de assaltos que se multiplicam nos bairros distantes”. Segundo o coronel, somente em dezembro passado foram mais de 7 mil ocorrências de som alto, no mesmo período mais de 3 mil ocorrências de violência contra a mulher [Lei Maria da Penha]. Disse ainda que Alagoas neste momento enfrenta uma guerra entre grupos de traficantes. “Nós não temos uma política de estado de combate à violência em suas múltiplas possibilidades. A gente é acionado para combater o tráfico e os homicídios, mas esquecem a população. Essas cobranças que faço geraram a insatisfação do governador e aí...”, lamentou.

“VERGONHA”

Entre as cobranças que fez pessoalmente ao governador, o auxiliar do Comando-Geral da PM, coronel Valter Do Vale, pediu para Renan Filho olhar a situação em que se encontra o Centro de Formação de PMs. “É uma vergonha no nosso CF. Vamos receber mil soldados e não sabemos onde vamos colocá-los para trabalhar a formação desses futuros policiais”. Ao explicar, revelou que, com o sucateamento do quartel do Comando-Geral, o CPC(Centro de Policiamento da Capital) passou a funcionar nas salas de aula, o comando do CPC está instalado na Academia de Cadetes. “O quartel-geral funciona dentro da área de ensino porque não temos mais o nosso QG”, lamentou Do Vale. Outros coronéis que preferiram não se identificar revelaram que o Centro de Formação precisa de obras e reparos, mais investimentos, salas mais amplas e outras benfeitorias.

SNSP

Apesar de estar inserida no Sistema Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Alagoas é um dos estados pobres que quase não recebem recursos federais porque é um dos poucos que não mandam projetos e não demonstram interesse em fazer captação de recursos federais. “O clima de oposição entre o governo de Alagoas e o governo federal termina prejudicando a população e as instituições policiais”, lamentou o coronel Valter Do Vale, ao detalhar os prejuízos. “Algumas cidades são policiadas apenas com dois ou três PMs. Nos Cisp de cidades eleitoralmente fortes, há 20 e 30 policiais; em outras violentas, falta a mesma estrutura. A outra crítica é com relação ao projeto Ronda do Bairro. “Como se cria um projeto de polícia dentro de uma secretaria que não é a SSP? O Ronda está dentro da Secretaria da Paz. O governo criou outro comando que se configura como uma milícia. O projeto não tem curso de formação, não tem concurso público, capacitação e funciona dentro de outra estrutura usando mão de obra da polícia da ativa, inativos e oriundos do Exército. Falta respaldo jurídico, constitucional e cria falsa sensação de segurança”. O coronel Do Vale defende melhores condições de salários para o pessoal da ativa, inativos e cobrou investimentos na Força Tarefa que ameaça parar porque desde 2017 recebe gratificação de R$ 20. Ele também não gostou de saber que os colegas de Arapiraca estão sendo obrigados a gravar vídeos elogiando a FT e utilizar as viaturas amarelinhas quando deveriam trabalhar na escola normal nas viaturas operacionais. As entidades de cabos e soldados, sargentos, União dos Policiais Militares e oficiais cobram o pagamento de adicionais como periculosidade, insalubridade, entre outros direitos ignorados. Os líderes das entidades confirmaram que no dia 8, às 15h, policiais e bombeiros estarão novamente reunidos na sede da Associação dos Oficiais, no Trapiche, para discutir estratégias contra o governo que engaveta ou ignora pleitos antigos das instituições.

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