Depois das denúncias de contratos milionários precarizados, “de boca”, com hospitais filantrópicos, particulares, clínicas privadas, da falta de insumos, medicamentos e de pessoal nos hospitais do Estado, novos e antigos, a nova política de Saúde Pública de promover uma “maratona” de procedimentos para reduzir a fila de 50 mil cirurgias eletivas e de 700 mil exames reprimidos, preocupa diversas especialidades da Saúde.
A Sociedade Alagoana de Oftalmologia é uma dessas entidades preocupadas e, numa carta endereçada ao Conselho Regional de Medicina e à própria Secretaria de Estado da Saúde, cobrou explicações sobre as 8 mil cirurgias de olhos que a Sesau anuncia. A Gazeta teve acesso ao documento da SAO endereçado ao Cremal, em que a entidade demonstra atenção com a “maratona” das cirurgias eletivas promovidas pela Sesau, que prevê 8 mil procedimentos cirúrgicos de Pterígio [doença que afeta as pessoas com outros problemas oculares. Trata-se do crescimento anormal de tecido nos olhos, que em casos graves é capaz de afetar a visão e diminuir a qualidade de vida do paciente]e Catarata. A entidade cobrou do Conselho Regional de Medicina fiscalização dos procedimentos e manifestou preocupação com os profissionais envolvidos com esse projeto. Fontes ligadas às entidades dos médicos especialistas demonstram preocupação porque as cirurgias oftalmológicas serão em hospitais públicos, e alguns deles carecem de insumos e medicamentos.
Em documento enviado ao Cremal no dia 28 de junho passado, assinado pelo presidente da Sociedade Alagoana de Oftalmologia, médico Isac Carvalho de Oliveira Ramos, a entidade diz que reconhece a louvável iniciativa estadual em reduzir a fila de 2,5 mil pacientes em lista de espera por cirurgias em Alagoas.
Entretanto, o documento confirma a preocupação dos médicos, porque “algumas dúvidas foram suscitadas por nossos associados e que se revelam importantes para o efetivo alcance da solução desejada na execução deste projeto de saúde pública”.
Dessa forma, a Sociedade Alagoas de Oftalmologia quer saber: “1) quem são os médicos que realizarão as cirurgias de pterígios e catarata nesta maratona de cirurgias e em que local essas serão realizadas; 2) quais foram os critérios utilizados para a escolha dos médicos e dos demais profissionais de saúde encarregados desses procedimentos cirúrgicos; 3) serão utilizadas as conhecidas carretas cirúrgicas para a realização dessas cirurgias oftalmológicas?;4) Como será feito o atendimento pós-operatórios desses pacientes? As preocupações expressas no documento foram endereçadas também ao atual secretário de Saúde do Estado, o médico Gustavo Pontes de Miranda. A Gazeta tentou contato com o secretário e até o fechamento desta edição não foi possível.
CREMAL
O presidente do Conselho Regional de Medicina, médico Edgar Pedrosa, também demonstrou preocupação com a política de milhares de procedimentos cirúrgicos para reduzir a “elevadíssima” demanda reprimida de cirurgias eletivas e exames. Por outro lado, lamentou que o Estado esteja promovendo milhares de cirurgias de diversas especialidades sem fazer nenhum tipo de consulta ao Conselho Regional de Medicina. Também reconheceu que o governo estadual não tem esta obrigação. “Tudo o que sabemos por colegas e pela imprensa é que tem uma fila com milhares de cirurgias eletivas [50 mil] e exames [700 mil] reprimidos. Antes da pandemia do coronavírus os números já eram preocupantes. Com o agravamento dos casos e de contaminação pela Covid 19, todos os hospitais suspenderam todos os tipos de atendimentos e passaram a tratar as vítimas da pandemia. Isso fez agravar a situação da saúde pública”.
Com relação aos questionamentos da Sociedade Alagoana de Oftalmologia, Pedrosa responde que reconhecia a preocupação dos profissionais e da entidade. “Porém, esses questionamentos têm que ser feito diretamente à Secretaria de Estado da Saúde. Não é da nossa competência ditar a gestão do governo para a pasta da Saúde”, enfatizou.
No entanto, não escondeu a preocupação com os milhares de procedimentos cirúrgicos que estão em curso. “A nossa preocupação é como ficará o pós-operatório desses pacientes. Qual a estrutura que existe para atuar em casos de necessidade? Não sabemos e as notícias que nos chegam oficiosamente nos preocupam”. O médico Edgar Pedrosa reconheceu, porém, que existe a necessidade de buscar solução para a demanda reprimida que é “altíssima” também na área oftalmológica. Em caso de possíveis complicações nos procedimentos, o presidente do Cremal foi taxativo. “Nós, somos obrigados constitucionalmente a investigar qualquer tipo de denúncias e adotar as medidas cabíveis e necessárias para esclarecer as ocorrências. Esperamos que tudo ocorra dentro de um planejamento previsto pelas autoridades de saúde envolvidas com o projeto da maratona de procedimentos e com a saúde dos pacientes”, frisou o presidente do Conselho.