Política
SEDUC MANDA REFORMAR ESCOLA QUE NÃO EXISTE NA TRIBO KOIUPANKÁ
Indígenas estudam em ocas de palhas surradas, em salas estreitas de casas da aldeia e cobram a escola estruturada prometida desde 2006


A política da Educação dos últimos governos, incluindo o atual, além de não tirar o Estado da relação dos piores nacionais de analfabetismo e evasão escolar, virou um grande imbróglio após a renúncia do então secretário Luciano Barbosa (MDB), que deixou o cargo que acumulava com o de vice-governador para disputar e vencer a eleição para prefeito de Arapiraca, em 2020. Após a saída de Barbosa, no período de um ano passaram cinco secretários de Educação. O último foi Rafael Brito, que saiu para participar do processo eleitoral. Mesmo assim, a pasta passa por momentos inusitados: distribui dinheiro para alunos e professores na tentativa de combater a evasão e até mandou reformar uma escola que nunca existiu. O suposto colégio deveria ter sido construído em 2006 na aldeia Koiupanká, em Inhapi. Prometida no final do governo Ronaldo Lessa (PDT), a obra nunca foi construída. Os servidores do Estado orientados para trabalhar na reforma do colégio que não existe estiveram na tribo, pressionaram os caciques, lideranças e até o diretor da escola, que funciona improvisadamente na aldeia, para dar conta do prédio. Os indígenas explicaram que não havia escola do Estado na aldeia. Não teve jeito. Os servidores só aceitaram a explicação depois de constatarem a ausência do que procuravam. Agora, os índios exigem a escola que foi prometida e nunca saiu do papel.
Ao que parece, isso pode ocorrer com 16 anos de atraso. Um convênio assinado entre a prefeitura de Inhapi com o governo estadual, promete iniciar a construção ainda este ano. A escola terá apenas seis salas de aula e, a partir do dia 25 deste mês, será lançado o edital. Agora, há outro problema que precisa ser superado logo. Como a tribo não tem terra demarcada, a pergunta que ainda não tem resposta é: onde será construída a escola? Nem a secretária de Educação do município, professora Carleane Chagas, sabe responder. “O que posso garantir é que será próximo da aldeia”, disse ela.
Confusões como essa contribuem para que Alagoas tenha os piores indicadores de analfabetismo e de evasão escolar do País, com 17,1% da população. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado tinha até 2020, mais de 337 mil pessoas de 14 anos ou mais que não sabem nem ler nem escrever – 160 mil delas homens, e outras 177 mil do sexo feminino. Para tentar reduzir esses números, o Executivo estadual começou, na gestão passada, uma política de distribuição de R$ 220 milhões até o final do ano para estudantes que se matricularem, frequentarem 75% das aulas e professores que trabalharem na busca ativa. Os índices negativos da Educação são ainda mais evidentes em 12 comunidades indígenas e 73 quilombos espalhados pelos 102 municípios. A maioria não tem escola nas comunidades nem terra demarcada. Sem contar com problemas como ocorreu com o povo Koiupanká, de Inhapi, que foi surpreendido pelos técnicos da Secretaria de Estado da Educação, que apareceram para reformar a escola que nunca existiu.