A preservação da Serra recebe anualmente R$ 1 milhão da Fundação Palmares [órgão do Ministério da Cultura]. Os recursos são aplicados no pagamento de 15 seguranças contratados de uma empresa privada, na manutenção da base de observação e de vigilância, de quatro trabalhadores de serviços gerais e pequenos reparos. O governo estadual bancou as obras de pavimentação do único acesso. A estrada asfaltada liga o centro da cidade até o platô da serra. As secretarias municipais de Educação e Cultura mantêm atividades o ano inteiro na serra e nas escolas públicas. Porém, nem tudo são flores na terra de Zumbi. Pelo contrário. As placas com as referências históricas na fortaleza dos Palmares estão ilegíveis, enferrujando, os equipamentos de áudio há mais de um ano precisam ser consertados, a biblioteca com documentos e livros que tratam das histórias da escravidão no Brasil e nas Américas, como prometeu o então ministro da Cultura, Aluízio Pimenta, no ato de tombamento da serra em 1985, nunca apareceram, lamentou Valdice Gomes, uma das coordenadoras da entidade Anajô. Ela destaca, porém, que a acessibilidade melhorou muito. “Anualmente, mais de 30 mil pessoas visitam a serra. É possível ampliar os acervos, a infraestrutura e criar atrativos para atrair o turismo internacional. Isto pode melhorar a vida de todos na cidade com novas oportunidades econômicas”.
Um dos articuladores principais do tombamento da Serra, professor Zezito Araújo, lideranças do Movimento Negro e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, bem como as secretarias de estado e do município de Cultura, Melina de Freitas e Elizabeth Oliveira, respectivamente, defendem mais divulgação e apoio inclusive do Mercosul. “A serra é mais que um patrimônio importantíssimo da formação cultural e étnica do povo brasileiro. E, neste momento que o País está dividido por conta das disputas políticas, pode ser um elo de reflexão do nosso povo”, defendem essas autoridades.
Para o professor Zezito, a Serra pode estimular a geração de emprego, renda, promover o turismo cultural internacional e ser mais um atrativo do País e de Alagoas. Ele sonha com o pertencimento da serra pelo povo brasileiro.
resistência
De Zumbi dos Palmares até aqui, a resistência continuou. Não tem sido fácil. Em Alagoas, por exemplo, é perigoso ser jovem negro. O levantamento do Centro de Defesa Zumbi dos Palmares aponta que de cada dez adolescentes mortos em ação policial, oito são negros. O Atlas da Violência do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que desde 2015, O Brasil apresenta as maiores diferenças de vitimização entre negros e não negros, com taxas de homicídios de negros 42,9 vezes maiores do que as de não negros. A situação é dramática nas favelas brasileiras. Os religiosos de Matrizes Africanas, Capoeiristas, líderes dos Movimentos Negros anualmente sobem a Serra e entre as celebrações e manifestações, fazem reflexões da situação do País e particularmente do nosso Estado. “O Dia Nacional da Consciência Negra” é data de autoafirmação e de resistência, disse uma das líderes do movimento, a jornalista Valdice Gomes. O governo de Alagoas e a prefeitura de União dos Palmares vêm vencendo barreiras para que este patrimônio histórico ganhe a situação de “pertencimento do povo brasileira” e o Centro de Cultura e Estudo Étnicos Anajô defende a luta contra o racismo estrutural. “As senzalas estão ai, é só olhar para as periferias. A própria Serra da Barriga não é reconhecida pela Fundação Palmares”, lamentou Valdice.