Envolvido numa situação que culminou no cancelamento da cerimônia de abertura da principal feira de tecnologia agrícola da América Latina, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou um evento do governo de São Paulo, comandado por seu aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), para discursar ontem a ruralistas presentes à Agrishow, em Ribeirão Preto (a 313 km de SP). A organização da feira anunciou no sábado (29) o cancelamento da tradicional cerimônia de abertura após a polêmica envolvendo o "desconvite" ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura) para que não comparecesse ao ato, que contaria com a presença de Bolsonaro. Isso ocorreu em uma conversa entre o ministro e o presidente da feira, Francisco Matturro, que desencadeou uma crise que culminou na ameaça do governo Lula (PT) de o Banco do Brasil cancelar o patrocínio à feira. Mesmo sem cerimônia oficial, Bolsonaro —em sua primeira viagem pelo país após retornar de um período de três meses nos Estados Unidos— manteve sua programação e desembarcou em Ribeirão pouco antes das 14h do domingo (30), quando foi recebido por uma multidão no aeroporto. Após cumprimentar apoiadores, subiu na caçamba de uma camionete e percorreu cerca de 18 km até a fazenda do ruralista Paulo Junqueira, responsável pelo convite para Bolsonaro visitar a feira agrícola. Nessa segunda-feira, chegou à Agrishow pouco antes das 11h, com um forte esquema de segurança, e entrou no auditório do governo paulista na fazenda que abriga a feira agrícola para dizer que o agronegócio "precisa de políticos que não atrapalhem" o setor. "Isso que fiz ao longo do meu mandato, com meus ministros", disse Bolsonaro, que passou a criticar as homologações de terras indígenas assinadas por Lula, a quem chamou de "cidadão que está no Palácio". "Vocês devem saber que há 400 pedidos de demarcações de terras indígenas e pelo menos 3.500 de quilombolas. E aquele cara disse que faria o possível para atender os anseios das comunidades. Se 10% forem atendidos, para onde irá nosso agro? Peço a Deus para isso não acontecer", afirmou Bolsonaro, que discursou por sete minutos e foi saudado diversas vezes como "mito". Tarcísio iniciou seu discurso cumprimentando Bolsonaro e disse que "não é mistério para ninguém a gratidão" que tem pelo ex-presidente, que no cerimonial foi apresentado como "presidente". "Sempre trouxe para sua equipe os louros, sempre deu o crédito para aqueles que o acompanhavam", disse o governador.