A agonia de moradores, turistas e desportistas que desfrutam a praia da Jatiúca, em especial próximo à Lagoa do Anta, só cresce. Desde o anúncio da venda do Hotel Jatiúca, o local passou a ser ainda mais visitado.
O projeto, que prevê cinco “espigões” de concreto no local onde hoje fica o Hotel Jatiúca, tem provocado indignação e preocupação. Entre os frequentadores, reina a incerteza sobre o futuro da região e que tipo de impacto o novo empreendimento pode causar na localidade.
À Gazeta, frequentadores manifestaram insatisfações. Um deles é o representante comercial Fabiano Bulhões, que aproveitava o dia de sol do feriado da Proclamação da República e não escondeu a decepção com a divulgação de que área pode desaparecer.
“É um prejuízo para a cidade, para o turismo e para as pessoas que moram aqui. Para aquelas que praticam exercício aqui, matinais ou em qualquer horário, a lagoa é um atrativo”, observou Bulhões.
Morador do Recife, ele diz temer que os impactos das obras venham a interferir diretamente nos aspectos ambientais que marcaram a região durante anos. “E acredito que realmente essa construção pode impactar o visual aqui, que é um ponto turístico e um exemplo ambiental excelente para todos”, completou Bulhões.
Sua esposa, a bancária Laís Nunes, chegou a fazer um apelo para que algo seja feito para conter a ocupação imobiliária no local. Acostumada a conviver com a realidade da capital pernambucana, que diz ser rica em parques e áreas de convivência, ela sugeriu uma reavaliação do projeto.
“É muito complicado isso. É melhor que se reavalie para que mantenha o bem-estar da população”, acrescentou Laís.
CONVIVÊNCIA
A Lagoa da Anta, com sua paisagem integrada ao hotel, tornou-se uma das mais importantes áreas de convivência da orla da Jatiúca. Seja pela tranquilidade, seja pelo equilíbrio da natureza, o local foi projetado cuidadosamente pela equipe do paisagista Roberto Burle Marx.
Caminhando pelo entorno da lagoa para aproveitar o dia de sol, a funcionária pública Gisele Carvalho revelou que tem uma relação afetiva com a área desde que nasceu, quando ainda frequentava com seus pais.
“Essa lagoa está aqui desde que me entendo por gente. Tenho 32 anos e acredito que temos de preservar esta bela paisagem, pois já não há muitas como ela”, observou a servidora.
Segundo Gisele, é fundamental que seja encontrada uma forma de assegurar a continuidade do paisagismo local porque ele já está completamente integrado à cidade.
“Ainda mais depois que conseguimos concluir a obra, que garante o passeio pela orla. É tão bonito caminhar por aqui. Por que tirar? Até que ponto vale a pena?”, indagou Gisele.
‘VAI TIRAR O QUE TEMOS DE BONIto’
A aposentada Lourdes Souto, que frequenta o local, defendeu que a Lagoa da Anta não só se mantenha, como seja melhorada.
Em geral, ela costuma passear e se exercitar em suas caminhadas no período da manhã. Por isso, acredita que é possível melhorar o que já existe.
“Quero que a lagoa continue no local dela. Mas que seja feita alguma coisa para que ela fique ainda mais bonita. Seja pela limpeza ou outra coisa. Mas tirá-la, de jeito nenhum. De jeito nenhum mesmo”, defendeu Lourdes.
Sua colega de caminhada, Dislene Silva, que também é aposentada, é a favor de que se invista mais no visual e na limpeza. Para ela, o passeio na região é um ganho permanente para que possa frequentar aquele ponto da praia.
“Se quiser vender, como já vendeu, tudo bem. Mas que a lagoa continue como está. Limpá-la diariamente e uma arrumação”, sugeriu.
Traumatizada com o desastre ambiental provocado pela Braskem, ela não escondeu temer pelo pior.
“Se for fazer prédio aqui, o visual não vai ficar como está. A praia não vai ser mais assim. Vai tirar tudo de bonito que temos, que é a praia. Vai ser como a Braskem, que acabou com tudo”, previu Dislene.
A preocupação com a destruição que pode ser produzida na área ecologicamente intacta por décadas foi reforçada pelo químico Gerônimo Malta. “Isso é um absurdo porque é uma área de preservação. Uma área de Marinha, toda ela. Então, colocar aqui várias torres de 20 ou 30 andares, como isso vai ficar? Aqui é a Lagoa da Anta e não pode acabar. As autoridades têm que ficar de olho”, concluiu Malta.