O bairro do Mutange está à beira de uma tragédia ambiental sem precedentes. Na tarde de ontem, a Defesa Civil de Maceió emitiu um alerta, por meio de mensagem de celular, para o risco iminente de colapso de uma das minas da Braskem no bairro, um dos que foram desocupados por causa do afundamento do solo causado pela mineração.
De acordo com o órgão municipal, os últimos sismos ocorridos na região se intensificaram e houve um agravamento do quadro. Estudos mostram que pode haver o deslocamento abrupto do solo na área onde está localizada a cavidade 18, que vem sendo monitorada pelos técnicos.
Por causa disso, a Defesa Civil reforçou a orientação para que se evite circular pelo bairro e solicitou o bloqueio do tráfego de veículos em alguns pontos. Deve ser evitada também a circulação de embarcações na área da lagoa próximo ao Mutange.
Segundo o coordenador-geral da Defesa Civil Municipal, Abelardo Nobre, caso a estrutura entre em colapso, a água da Lagoa Mundaú poderia sofrer um aumento “drástico” de salinização, pois 60% da mina se encontra sob o complexo lagunar
“Se o teto dela [mina] vier a desabar, essa cavidade chega até a superfície. Se ela chegar dentro da lagoa, as consequências são mais preocupantes. Pode-se ter um processo de sinalização, porque a água da lagoa vai ter contato com o fluido que há dentro da cavidade. Isso pode causar um aumento drástico da salinização dessa água”, explicou Nobre.
Ainda de acordo com o coordenador, o processo de salinização, se ocorrer, vai atingir toda a área de mangue. “Dependendo do volume que essa cavidade chegar na superfície, a gente vai mensurar o impacto ambiental que deve causar na lagoa”, afirmou.
Nobre descartou também a possibilidade de cidades margeadas pela Lagoa Mundaú serem atingidas, assim como lembrou que a Defesa Civil Municipal recomendou que a população e os pescadores evitem a região.
ABALOS
As minas citadas pelo órgão são cavernas abertas pela extração de sal-gema durante décadas de mineração, mas que estavam sendo fechadas desde que o Serviço Geológico do Brasil (SGB) confirmou que a atividade realizada pela Braskem havia provocado o afundamento do solo nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto, Mutange e parte do Farol.
Nos últimos dias, o monitoramento na região foi reforçado porque houve pelo menos cinco abalos sísmicos somente neste mês de novembro.
Documentos enviados pela mineradora à Defesa Civil, obtidos com exclusividade pela Gazeta, informam que “foram obtidas fotos de drone da área onde ocorre a movimentação atípica do solo que mostram fissuras localizadas acima da cavidade 18.
No final da manhã, em nota enviada à imprensa, a empresa informou que havia paralisado todas as operações na área onde aconteceram os tremores registrados pelo sistema de monitoramento e relatados por moradores no início da semana.
A Braskem ressalta que segue monitorando a situação e que trabalha para mitigar os impactos do processo de rebaixamento do solo no entorno de suas operações em Maceió.
A companhia reforça que está comprometida em cumprir as medidas acordadas com o Governo de Alagoas e com a população afetada.
INSTABILIDADE
Desde que a mineração para extração de sal-gema foi apontada como a principal causa das rachaduras que surgiram no solo e em imóveis dos cinco bairros de Maceió, um intenso trabalho foi iniciado para fechamento e estabilização de 35 minas na região do Mutange e de Bebedouro. Os trabalhos foram paralisados depois do registro de novos tremores.
A cavidade com risco iminente de colapso é a de número 18, situada próximo à lagoa. Em 2019, no relatório sobre a instabilidade do solo em Maceió, o Serviço Geológico do Brasil apontou que essa mina já tinha sinais de desabamento e alertou para a possibilidade de evolução rápida do processo.
De acordo com o SGB, a exploração de sal-gema, feita de forma inadequada, desestabilizou as cavernas subterrâneas que já existiam na região, causando o afundamento do solo e, consequentemente, as rachaduras que afetaram as cinco áreas de Maceió.
Quando encerrou definitivamente a extração do mineral na capital alagoana, a empresa apresentou medidas como uma área de resguardo, com a realocação de pessoas e a desocupação de mais de 14 mil imóveis.