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Ecossistema

Ambientalistas rechaçam tese da Record e reforçam proteção da Lagoa da Anta

“Mesmo lagoas degradadas continuam sendo sistemas aquáticos funcionais”, reforça especialista

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Ambientalistas contestam a alegação da construtora Record de que a Lagoa da Anta não se enquadra como lagoa e apresentam argumentos científicos que reforçam sua classificação tradicional. A polêmica surge em meio à negociação da empresa com o grupo Lundgren para construção de cinco megatorres de 15 andares cada uma na área atualmente ocupada pelo Hotel Jatiúca. O projeto é assinado pelo estúdio italiano Pininfarina.

Em entrevista à imprensa na terça-feira (11), durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Alagoas, Hélio Abreu, sócio da Record, trouxe dúvidas em relação à definição da Lagoa da Anta como lagoa, uma vez que não receberia afluentes.

“Quanto à preservação natural e o resgate da lagoa, porque na realidade hoje há muito questionamento sobre a conceituação de lagoa para aquele local, embora nós não vamos entrar nessa polêmica, nós vamos continuar admitindo que ali sim é uma lagoa, mas ela perdeu seus afluentes. Então, ela é uma lagoa que você precisa repor água, você precisa fazer um trabalho externo para manter a lagoa viva”, analisou.

O urbanista e professor da Ufal Dilson Ferreira rebate a tese da Record, afirmando que “a Lagoa da Anta é um exemplo clássico de lagoa costeira, caracterizada por uma depressão natural isolada do oceano por barreiras de sedimentos, vegetação de restinga e manguezais, além de outras espécies”.

Ele explica que, segundo critérios científicos, essas lagoas costeiras não necessitam de afluentes permanentes. “Essa afirmação [do sócio da Record] não tem embasamento biológico”, afirma.

Conforme a história, continua o professor, a Lagoa da Anta seguia uma dinâmica natural antes de intervenções que afetaram sua desembocadura no oceano, já que o Hotel Jatiúca construiu um muro de pedra ao seu redor, restringindo sua renovação hídrica, assim como o empreendimento Ritz Lagoa da Anta aterrou parte dela. Ele também menciona a construção da Avenida Evilásio Soriano, que dá acesso ao Residencial Jardim Vaticano, como um fator de impacto, já que a área era inicialmente uma várzea.

“Mesmo lagoas degradadas, como a Lagoa de Araruama (RJ), continuam sendo sistemas aquáticos funcionais. Isso reforça a importância da Lagoa da Anta, que, apesar das interferências humanas, mantém processos biológicos ativos. Há tanta vida na lagoa que, de tempos em tempos, aparecem peixes mortos em suas águas, resultado da poluição gerada pelo próprio hotel ou da redução da oxigenação e da troca com o mar, que foi fechada”, analisa.

O superintendente do Ibama-AL, Rivaldo Couto dos Santos Júnior, explica que a região da Lagoa da Anta é geomorfologicamente considerada uma laguna, ou seja, uma depressão rasa, com água salobra ou salgada, que se comunica com o mar por um canal.

“Uma laguna ou uma lagoa não precisa ter afluentes para ser denominada assim. As lagunas podem ter afluentes ou não alimentando o corpo hídrico e podem ser popularmente chamadas de lagoas”, reitera.

RECUPERAÇÃO

De acordo com Dilson Ferreira, ainda é possível recuperar a Lagoa da Anta, tendo como exemplo a recuperação parcial da Lagoa de Piratininga (RJ) e ações de revitalização na Lagoa de Itaipu (RJ). “Estratégias eficazes incluem a reativação da conexão hidrológica com o oceano, a remoção de sedimentos, o controle da eutrofização, a recuperação da vegetação nativa e o monitoramento contínuo da qualidade da água”.

O biólogo Marcos Bomfim da Silva afirma que ainda existem espécies nativas remanescentes em que havia um canal comunicando a Lagoa da Anta com o mar.

“Ainda hoje é possível ver aves aquáticas como garças e lavadeiras procurando alimento em suas margens. A Lagoa da Anta é um patrimônio natural e precisa sim de um grande projeto: o de restauração de vegetação ciliar, desassoreamento, comunicação com o mar e recuperação da qualidade de suas águas”, define.

Em recente entrevista à Gazeta, o consultor ambiental Alder Flores, ex-secretário de Meio Ambiente de Maceió, defendeu a realização de estudos de impacto ambiental, vizinhança e mobilidade no caso da construção das megatorres. Segundo Flores, é preciso verificar se o empreendimento é compatível com recursos naturais do local.

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