loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
sábado, 15/03/2025 | Ano | Nº 5924
Maceió, AL
31° Tempo
Home > Política

Meio Ambiente ameaçado

Ambientalistas rechaçam tese da Record e reforçam proteção da Lagoa da Anta

“Mesmo lagoas degradadas, como a Lagoa de Araruama (RJ), continuam sendo sistemas aquáticos funcionais", reforça especialista

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp
Ambientalistas rechaçam tese da Record e reafirmam identidade e proteção ambiental da Lagoa da Anta
Ambientalistas rechaçam tese da Record e reafirmam identidade e proteção ambiental da Lagoa da Anta | Foto: Lagoa da Anta

Ambientalistas contestam a alegação da construtora Record de que a Lagoa da Anta não se enquadra como lagoa, apresentando argumentos científicos que reforçam sua classificação como lagoa costeira. A polêmica surge em meio ao interesse de empreendimentos imobiliários na área, com a construção de cinco megatorres na área atualmente ocupada pelo Hotel Jatiúca. O projeto, que inclui espigões de 15 andares, é assinado pelo estúdio italiano Pininfarina.

Em entrevista à imprensa na última terça-feira, durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), Hélio Abreu, sócio da Record, trouxe dúvidas em relação à definição da Lagoa da Anta como lagoa, uma vez que não receberia afluentes.

“Quanto à preservação natural e o resgate da lagoa, porque na realidade hoje há muito questionamento sobre a conceituação de lagoa para aquele local, embora nós não vamos entrar nessa polêmica, nós vamos continuar admitindo que ali sim é uma lagoa, mas ela perdeu seus afluentes. Os afluentes não chegam mais à lagoa. Então, ela é uma lagoa que você precisa repor água, você precisa gerar, você precisa fazer um trabalho externo para manter a lagoa viva””, analisou.

A declaração de Abreu ressalta o debate em torno da definição da Lagoa da Anta e a preocupação com sua preservação.

O urbanista e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Dilson Ferreira, rebate a tese da Record, afirmando que "A Lagoa da Anta é um exemplo clássico de lagoa costeira, caracterizada por uma depressão natural isolada do oceano por barreiras de sedimentos, vegetação de restinga e manguezais, além de outras espécies".

Ele explica que, segundo critérios científicos da geomorfologia, hidrologia e biologia, essas lagoas costeiras não necessitam de afluentes permanentes. Ferreira é categórico: “Essa afirmação [do sócio da Record] não tem embasamento biológico”.

Conforme a história, continua o professor, a Lagoa da Anta seguia uma dinâmica natural antes de intervenções que afetaram a sua desembocadura no oceano, já que o Hotel Jatiúca construiu um muro de pedra ao seu redor, restringindo sua renovação hídrica, assim como o empreendimento Ritz Lagoa da Anta aterrou parte dela.

Ele também menciona a construção da Avenida Evilásio Soriano, que dá acesso ao Residencial Jardim Vaticano, como um fator de impacto, já que a área se tratava inicialmente de uma várzea. O professor argumenta que a degradação não invalida a classificação da Lagoa da Anta como lagoa.

“Mesmo lagoas degradadas, como a Lagoa de Araruama (RJ), continuam sendo sistemas aquáticos funcionais. Isso reforça a importância da Lagoa da Anta, que, apesar das interferências humanas, ainda mantém processos biológicos ativos. A interrupção da troca hídrica natural da Lagoa da Anta não significa sua morte ambiental. Pelo contrário, há tanta vida na lagoa que, de tempos em tempos, aparecem peixes mortos em suas águas, resultado da poluição gerada pelo próprio hotel ou da redução da oxigenação e da troca com o mar, que foi fechada”, analisa.

O superintendente do IBAMA-AL, Rivaldo Couto dos Santos Júnior, explica que a região da Lagoa da Anta é geomorfologicamente considerada uma laguna, ou seja, uma depressão rasa, com água salobra ou salgada, que se comunica com o mar por um canal.

“Uma laguna ou uma lagoa não precisa ter afluentes para ser denominada assim. As lagunas podem ter afluentes ou não alimentando o corpo hídrico e podem ser popularmente chamadas de lagoas”, reitera.

*Recuperação da Lagoa da Anta é possível é possível*

De acordo com o professor Dilson Ferreira, ainda é possível recuperar a Lagoa da Anta, tendo como exemplo a recuperação parcial da Lagoa de Piratininga (RJ) e ações de revitalização na Lagoa de Itaipu (RJ). "Estratégias eficazes incluem a reativação da conexão hidrológica com o oceano, a remoção de sedimentos, o controle da eutrofização, a recuperação da vegetação nativa e o monitoramento contínuo da qualidade da água".

Relacionadas