NO SENADO
Delegado detalha em CPI investigação que desvendou apostas online clandestinas
Comissão do Senado se propõe a debater a influência dos jogos virtuais no orçamento das famílias e investigar a possível associação com organizações criminosas


O delegado Lucimério Campos, da Polícia Civil de Alagoas (PCAL) – que comandou operações que desvendaram esquemas de jogos de azar clandestinos promovidos em plataformas digitais – prestou depoimento ontem (22) na Comissão Parlamentar de Inquérito das Apostas Online, a CPI das Bets, no Senado Federal, onde detalhou as investigações conduzidas em Alagoas.
“A operação Game Over não buscou tratar exatamente do que é relacionado as fintechs (plataforma), mas a publicidade desses jogos. A ponta do iceberg para que a pessoa jogue e acredite em qualquer promessa parte sempre da divulgação que as casas de apostas vão fazer, sejam elas clandestinas, sejam elas legalizadas. As pessoas que buscam os jogos, buscam por meio dessa divulgação. Muitas pessoas têm a vida arruinada”, destaca o delegado Lucimério.
Com investigação foi iniciada em dezembro de 2023, em Alagoas, foram identificadas R$ 15 milhões em dinheiro revertidos em apostas, todas clandestinas, muitas delas divulgadas por influenciadores, que trazem discurso de convencimento.
“A Operação Game Over tem desenvolvimento em parte de problemas que enfrentamos no estado de Alagoas e no Brasil em relação as apostas, seja na modalidade esportiva, seja nos jogos on-line. Tivemos à procura de algumas vítimas ainda em 2023, pessoas se queixando de perda de dinheiro. Abrimos os boletins de ocorrência e partimos para ouvir as primeiras pessoas e entender como se davam essas perdas”, relata o delegado.
A CPI se propõe a debater a influência dos jogos virtuais de apostas online no orçamento das famílias brasileiras e investigar a possível associação com organizações criminosas envolvidas em práticas de lavagem de dinheiro, assim como o uso de influenciadores digitais na promoção e divulgação dessas atividades.
“Não é surpresa para ninguém que as bets têm canalizado volumes na casa dos bilhões. Entra aí dinheiro do bolsa família, o comprometimento de apostadores de diversas classes e o caminho é sempre o mesmo”, explica Campos.
A investigação liderada por Lucimério Campos revelou o uso de “contas demonstração” para simular apostas reais, atraindo seguidores para plataformas de jogos ilegais, prática que resultou em prejuízos financeiros e psicológicos para diversas pessoas.
A CPI teve acesso a vídeos dos influenciadores Kel Ferreti, Deolane Ferreira e Paulinha Ferreira, que conseguiram milhares de seguidores, muitos deles direcionados a jogos online. A última delas, Paulinha, chegou a ser presa na Operação Game Over junto com o marido.
Também foi citado o influenciador Rico Melquíades, alagoano que venceu reality e citado no inquérito policial. Ele alegou ter um contrato formal com uma das casas de apostas virtuais.
Segundo o presidente da comissão senador Hiran Gonçalves (PP-RR), a operação identificou o uso de “contas demonstração” para simular apostas reais, estratégia usada para atrair seguidores a plataformas ilegais de jogos. A prática causou prejuízos financeiros e psicológicos a diversas pessoas.
“Vale lembrar aqui que mesmo as bets que estão regularizadas, a proibição nas portarias de se fazer propagandas. Nós estamos tendo uma dificuldade enorme em investigar grandes bets que patrocinam jogos no Brasil”, ressaltou a senadora Soraya Thronicke (Podemos/MS), relatora da CPI das Bets.
A investigação da Polícia Civil alagoana, coordenada pelo delegado Lucimério, revelou uma organização estruturada de promoção de jogos ilegais, que utilizava a imagem e alcance de personalidades digitais para captar novos apostadores.
“É uma luta contra gigantes, mas os delegados não recuaram e foram. Quando chegar na sua delegacia uma senhorinha para fazer um boletim de ocorrência de um estelionato, receba. Vá atrás. Foi por conta disso que muita gente foi para a cadeia. Parabéns aos delegados que tiveram coragem de enfrentar esse mercado bilionário, nojento e asqueroso”, desta a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).